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By Ferramentas Blog

segunda-feira, 18 de abril de 2011

VOCÊ SABIA? HÁ UM DICIONÁRIO DE SUICIDAS ILUSTRES !

DICIONÁRIO DE SUICIDAS ILUSTRES
J.Toledo






O Dicionário de suicidas ilustres foi iniciado em 1995, porém, a idéia de sua fatura originou-se em maio de 1984, quando o escritor Pedro Nava (1903-1984) se suicidou e o autor almoçava na casa do pintor Carlos Scliar, em Ouro Preto. Foi juntando material e, nesse meio tempo, em conversas com o psicanalista inglês Frank Philips, a escritora Hilda Hilst e, mais há pouco, com o jornalista e escritor Ruy Castro, a idéia se consolidou e a obra passou a ser sistematizada.
Trabalhando quinze horas diárias, pesquisando, redigindo e entrevistando (telefonicamente e on line via Internet), o autor consultou dezenas de pessoas, contando ainda com a ajuda de um batalhão de amigos, aqui e no exterior, organizando um precioso arquivo de seus personagens. De toda essa documentação, originalmente, foram levantados mil nomes. Contudo, e dentro dos padrões que estabeleceu, foram escolhidos 720 suicidas ilustres que acabaram ali biografados.
Destes, vêem-se artistas, filósofos, escritores, poetas, dramaturgos, atores, cineastas, físicos, químicos, matemáticos, médicos, religiosos, políticos, reis, imperadores, militares, desportistas, agitadores, assassinos, enfim, seis Prêmios Nobel, inúmeros Prêmios Pulitzer, mais uma grande quantidade de verbetes sobre suicidas (ficcionais) famosos na literatura, na música e no cinema, e alguns dos mais notáveis personagens da mitologia.
O tema:
A temática surgiu, a princípio, motivada pela perplexidade filosófica do autor diante do fenômeno "suicídio", especialmente, quando este é praticado por pessoas – de um modo ou de outro – proeminentes, levando-o a refletir sobre a precariedade do ser, não obstante sua importante condição social e intelectual, ou ainda sobre a estabilidade mental que aparente ter no decorrer da existência. Afinal, a conclusão a que chegou é que ninguém parece estar a salvo de se matar, perplexidade, esta, demonstrada também na epígrafe que escolheu para seu livro:
Como já passou pela cabeça de todos os homens sãos o seu próprio suicídio, poder-se-á reconhecer, sem outras explicações, que há uma ligação direta entre este sentimento e a atração pelo nada.
(Albert Camus)
O segundo motivo para todo seu trabalho de pesquisa decorre de ser, ao mesmo tempo, um assunto tabu, porém, fascinante a todos: o livre-arbítrio entre continuar vivendo ou partir por conta própria, sobretudo, quando se reporta a vulto de projeção, e o fato reveste-se de pudor pelos puritanos, dicionaristas, a imprensa e a História.
A introdução da obra é feita pelo psiquiatra e psicanalista Dr. Roosevelt Cassorla, autoridade no tema e autor de três livros sobre o assunto.

Selecionamos alguns verbetes desta obra, que ilustram esta matéria:

Davison, Emily Wilding = (1872-1913). Militante sufragista inglesa.
Nasceu em Blackheath, Morpeth, Northumberland, em 1872. Morreu em Epsom Downs, Surrey, a 5 de junho de 1913.
Filha de Charles e Margareth Davison, teve uma infância e vida escolar impecáveis. Estudou Literatura no Holloway College, mas foi obrigada a interromper estudos devido à morte do pai e à precária viuvez da mãe. Contudo, lecionando e formando futuros professores, conseguiu manter-se, retornar ao curso e formar-se pela Universidade de Londres, obtendo depois um posto de professora junto à comunidade de Berkshire.
Vivendo dificuldades e observando na própria pele os preconceitos e a inferioridade social que a mulher sofria na sociedade de então, ingressou em 1906 no Woman's Social and Political Union, movimento fundado por Emmeline Pankhurst (1858-1928), em 1903, sob o lema "ações, não palavras", onde passou a atuar em prol da emancipação da mulher.
Governada pelo rei George V (1865-1936) e pelo Chanceller (e depois Primeiro Ministro) David Lloyd George (1863-1945), a Inglaterra, como de resto o mundo todo, opunha-se a concordar com o voto feminino pleiteado pelas mulheres desde o século XVIII, quando a revolucionária francesa Olympe de Gouges (1748-1793) lançou a Declaração dos Direitos da Mulher (1789) e a líder e pioneira do feminismo inglês Mary Wollstonecraft (1759-1797) publicou seu livro Vindication of the Rights of Woman (1792).
Exacerbadas, as mulheres inglesas atuavam com furor, ora invadindo aos gritos recintos públicos como assembléias, ora apedrejando ou incendiando propriedades. Nesses atos de violência, deixavam-se prender em grupos pela polícia e, presas, realizavam greves de fome. Emily, contudo, que achava faltar um fato sensacional para atrair as atenções para a causa, chegou a tentar o suicídio, saltando de uma sacada, sobrevivendo, porém.
No dia 4 de junho de 1913 aconteceu o grande Derby de Epsom. Realizada desde 1780 e encabeçada pela família real, a célebre corrida de cavalos reunia toda a alta sociedade britânica e milhares de expectadores. Boa oportunidade, portanto, para uma demonstração de desagravo das mulheres do WSPU. Radical e para chamar atenção sobre as atividades do grupo e sensibilizar a sociedade e realeza, Emily não se limitou exclusivamente aos protestos habituais: atravessou a cerca de segurança, invadiu a pista e, quando os animais desenvolviam alta velocidade, suicidou-se lançando-se à frente de Anmer, cavalo pertencente ao rei e que então ganhava o páreo.
A tragédia do Derby de 1913 assinalou o ponto culminante da agitação, que não foi em vão. Feita mártir dos movimentos feministas e sufragistas na Inglaterra, o voto feminino acabou liberado em 1918, quando, então, as mulheres inglesas de mais de 30 anos obtiveram o seu direito ao voto.
Bibliografia:
PANKHURST, Christabel. Unshackled, the story of how we won the vote. Hutchinson, Londres, 1959.
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Derby, Orville (Adelbert) = (1851-1915). Geólogo, geógrafo, autor, explorador e naturalista norte-americano.
Nasceu a 23 de julho de 1851, em Kelloggsville, New York. Morreu a 27 de novembro de 1915, no Rio de Janeiro.
Citado reverentemente como "Pai da Geologia no Brasil', estudou na Universidade Cornell, onde se doutorou em 1873.
Terceiro filho de uma família bem situada, passou a infância na pequena fazenda dos pais, em Finger Lakes, próxima de Kelloggsville. Após os primeiros estudos na cidade natal e os preparatórios na Escola Normal de Albany, em 1869, ingressou na Universidade de Cornell, em Ithaca.
Aluno brilhante, ainda estudante, e sob a direção do professor Charles Frederic Hartt (1840-1878) veio duas vezes ao Brasil, em 1870-71, participando da chamada Expedição Morgan, realizando prospecções geológicas no curso inferior dos rios Tocantins, Tapajós e Xingu e, na segunda, pelo vale do Amazonas.
Regressando, lecionou em Cornell de 1873 a 1875.
Com a criação da Comissão Geológica do Império do Brasil, Hartt foi convidado a chefiá-la, trazendo Derby, que dela participou ativamente até sua extinção, em 1878, quando todo material colhido no norte, nordeste e sul do país foi depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Entusiasmado, Derby resolveu radicar-se no país para classificá-lo e estudá-lo, ordenando as coleções de minerais e organizando as seções de geologia e paleontologia.
À época, desenvolveu importante trabalho de reconhecimento geológico no Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Bahia.
Dirigiu o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil até 1907, fundando ainda a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo (hoje, Instituto Astronômico e Geofísico da USP), onde foi chefe de 1886 a 1904. Ali, também dirigiu a revista Boletim, em 1889.
Em 1891, publicou os primeiros mapas pormenorizados da América meridional e mais de 150 estudos históricos e geológicos sobre o Brasil, editados na França, Alemanha e, sobretudo, nos Estados Unidos.
Seus mais conhecidos trabalhos são: "Relatório acerca dos estudos geológicos praticados no rio das Velhas e alto São Francisco" (1882); "Relatório sobre a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo" (1888) e "Trabalhos cartográficos da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo" (1889).
Passou sua vida aqui, residindo em quartos de hotel. Celibatário convicto, quando perguntado sobre as causas de seu solteirismo, respondia que era muito cauteloso para assumir tal risco.
Fora convidado para lecionar em Stanford e trabalhar na Índia, porém, recusou, alegando não desejar de forma alguma deixar o país que amava, apesar de aqui ter sido chamado até de "estrangeiro ingrato".
Meses antes de morrer, naturalizara-se brasileiro. Entretanto, apesar de afamado e respeitado por toda a comunidade científica e política da época, sabe-se que sofreu injustiças, incompreensões e muitos problemas burocráticos, que o levaram de São Paulo para a Bahia, de onde regressou para o Rio de Janeiro e se suicidou em seu quarto no Hotel dos Estrangeiros, com um tiro de revólver na cabeça.
Lá, surpresos com seu gesto, políticos e cientistas deram-se conta de não haver nenhuma foto recente do suicida famoso. Praticou-se então outra medida surpreendente: ali mesmo, no quarto do hotel, lavaram o cadáver, vestiram-no, sentaram-no, abriram seus olhos com palitos e afinal fotografaram-no. E essa é a foto oficial usada para as comemorações de seu centenário de nascimento e com a qual se estamparam selos e se cunhou uma medalha festiva, em 1951.

Bibliografia:
DE OLIVEIRA, Eusébio Paulo. Orville A. Derby - 1851-1915. I.B.G.E., Rio de Janeiro, 1942.
FITTIPALDI, Fernando Cilento.  Orville Adelbert Derby, in: A Terra em Revista (2). CPRM, B. Horizonte, ago., 1996.
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Peixoto Gomide, Francisco de Assis = (1849-1906). Político brasileiro.
Nasceu em São Paulo a 24 de março de 1849. Morreu a 20 de janeiro de 1906, na mesma cidade.
Professor, elegeu-se senador em 1893 para o Congresso paulista e foi, por três vezes, vice-presidente do Estado de São Paulo: 1896 e 1897, no governo de Bernardino de Campos (1841-1915), quando assumiu a chefia por pequeno período; e em 1898, (quando também presidente do Senado Estadual), substituiu Manuel Ferraz de Campos Salles (1841-1913) durante a campanha eleitoral que o elegeria presidente da República.
No período de sua estada à frente do governo paulista, vendo o grande boom da produção borracheira na Amazônia, tentou desenvolver esse tipo de economia no Estado, frustrando-se, contudo, pela falta de repercussão a seus planos.
Político cultíssimo, sagaz e um dos mais influentes da chamada República Velha (1889-1930), seu nome ficara indelevelmente marcado por uma tragédia que comoveu a nação e, depois, o mundo das letras nacionais: sua filha, Sofia, se apaixonou pelo poeta e promotor público Manuel Baptista Cepelos* (1872-1915). A princípio e achando ser um romance passageiro, não se importou, porém, quando o caso se mostrou sério e os jovens resolveram se casar, opôs-se violentamente, proibindo-os de se reverem. Como o casal continuou se encontrando na clandestinidade, houve brigas, o senador se trancou com a filha numa sala, discutiram e acabou matando-a com um tiro no peito e se suicidando a seguir, dando um tiro na cabeça.
Desesperado, o poeta Cepelos deixou seu cargo público, entregou-se a bebedeiras e, depois de sofrer por nove anos a ausência da amada, também se suicidou, atirando-se do alto de uma pedreira, no Rio de Janeiro, por onde vagava como indigente.
Interessado no poeta que admirava, sobre a tragédia, conta-nos Humberto de Campos (1886-1934) em seu Diário secreto (1954, vol. 2, pág. 386) no diálogo mantido com o advogado e jornalista Humberto de Melo Nóbrega (1901-1978): "– Qual o motivo da morte de Cepelos? – O Cepelos nasceu em Cotia (SP), era mestiço e filho natural. Indo ainda jovem para a Capital, sentou praça na Brigada Policial e chegou a capitão. Na Revolta de 1893, foi para o sul, e tomou parte, lá, na campanha. Veio depois para o Rio de Janeiro, e aqui ficou, até que, em 1915, foi a São Paulo e conheceu ali uma jovem pela qual se apaixonou. A ignorância da paternidade era um dos tormentos de sua vida. A moça, porém, correspondeu à sua paixão. Era filha do velho Coronel Gomide, chefe político de Cotia. Gomide opôs-se vivamente ao noivado, e foiquando, para forçar o pai ao consentimento, a moça confessou: – Mas o senhor tem que consentir, porque eu já me entreguei a ele. O velho entra em desespero. Toma um revólver, mata a filha e suicida-se depois. Cepelos era, também, filho do velho Gomide!..
Ao ter conhecimento do fato, Cepelos achou que não devia mais suportar a vida. Subiu à pedreia que dá ali para a rua Pedro Américo, e atirou-se de lá".
Bibliografia:
DE CAMPOS, Humberto. Diário secreto, Vol. 2, O Cruzeiro, RJ, 1954.
DE MENEZES, Raimundo. Dicionário literário Brasileiro, LTC, RJ, 1978.
RODRIGUES ALVES, Odair. Os homens que governaram São Paulo, Nobel, Edusp, S.P., 1986.
COUTINHO, Afrânio. Enciclopédia de Literatura Brasileira, ME, RJ, 1990.
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