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By Ferramentas Blog

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AVULSO- O HOSPITAL D. PEDRO DE ALCÂNTARA E SUA VOCAÇÃO UNIVERSITÁRIA

                                                        SINCERO AGRADECIMENTO AOS

MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA DE

PORTUGAL PELO INCENTIVO AO

DESENVOLVIMENTO DESTE

BLOG
 
OCEANÁRIO DE LISBOA, PORTUGAL
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AOS AMIGOS DO EXTERIOR
 
 
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ASSUNÇÃO, PARAGUAI
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AVULSO- O HOSPITAL D. PEDRO DE ALCÂNTARA E SUA VOCAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Conferência realizada no Centro de Estudos do Hospital D.Pedro de Alcântara, em Feira de Santana

Geraldo Leite



*

A primeira escola primária do Brasil "foi aberta aqui na Bahia, na antiga povoação do Pereira, hoje "Baixa da Graça", em abril de 1549, onde se alojaram Tomé de Souza e sua comitiva, antes da funda­ção da primeira capital do Brasil” (1).

Meses depois a referida escola passou para os muros da cidade, em uma das casas então chamadas "da Ajuda", por estarem próximas da igreja do mesmo nome.

Pouco tempo mais tarde, transferiram-na para o Colégio do Terreiro, idéia lançada por Manoel da Nóbrega em carta que escreveu para EI Rei, em 9 de agosto de 1549. Disse ele à Alteza Real: "Eu trabalhei para escolher um lugar para o nosso colégio dentro da cerca e somente achei um que lá vai por mostra à sua Alteza, o qual tem muitos inconvenientes porque fica junto da Sé e duas igrejas juntas não é bom" ( Ibidem ).

O colégio floresceu.  Em 1575 já contava com 120 alunos, "sendo 70 na  escola elementar e 50 nos cursos mais elevados" (1). "Recém-criada, a Companhia de Jesus, impregnada daquele ardor que toda uma boa causa inspira, cuidou logo de ministrar o ensino leigo e religioso" (Serafim Leite, in Silva, obra citada).

Foi assim que os jesuítas organizaram "aulas", "colégios" e "semi­nários". "Aulas", ou "classes de ler, escrever e contar", a cargo, quase sempre, de um único padre. "Colégios" nas principais vilas (Salvador, Olinda, Rio de Janeiro e São Paulo, como exemplos), destinados aos cursos de Letras Humanas e de Artes, ministrados em três anos, incluin­do o ensino de Ciências Naturais e Filosofia. Ao concluírem o curso oferecido nos colégios, os estudantes estavam aptos a ingressarem em qualquer universidade. Os "seminários", plantados em um ou outro colégio - tal como ocorreu na Bahia - ordenavam os futuros padres, ou melhor, os "irmãos" da Companhia.

"Superiormente educado e muito bem orientado, pôde o jesuíta, com vantagem, exercer a medicina a praticar a enfermagem" (2). Tendo sólido conhecimento da Ciência Hipocrática oficial, a ela não se limitou. Aprendeu com o indígena o conhecimento da flora medicinal brasileira e deste conhecimento fez uso, beneficiando-se dos seus efeitos. Em suas cartas dirigidas para a Europa, transmitiram profundos ensina­mentos não só de ordem etnológica e etnográfica, como, também, de natureza médica e de modo especial sobre patologia e terapêutica (1).

Com os jesuítas - diz Santos Filho - começaram e terminaram sua rudimentar instrução os futuros cirurgiões e os futuros boticários do Brasil (Ibidem). Foi também nos colégios jesuítas que, a partir da século XVII e durante o século XVIII, receberam as instruções primária e secundária os estudantes brasileiros que foram doutorar-se em leis ou cânones em Coimbra e bacharelar-se ou licenciar-se em Medicina, de princípio em Coimbra e depois em Coimbra, Edinburgo, Montpellier e Paris.

Em paralelo à atividade jesuíta tiveram início, em terras do Brasil, a partir de meados do século XVI, as Irmandades da Misericórdia. Eram aglomerados de pessoas católicas, endinheiradas e caridosas, aglutinadas para a realização de piedosos empreendimentos, chamados "Obras da Misericórdia". Estas obras eram em número de 14, das quais 7 "espirituais" e 7 "corporais".

As 7 "espirituais" eram:
-         ENSINAR OS SIMPLES
-         DAR BOM CONSELHO A OUEM PEDE
-         CASTIGAR OS QUE ERRAM
-         CONSOLAR OS DESCONSOLADOS
-         PERDOAR AOS OUE NOS CRIARAM
-         SOFRER INJÚRIAS COM PACIÊNCIA
-         REZAR PELOS VIVOS E PELOS MORTOS

As 7 "corporais" eram assim enumeradas:
-         REDIMIR OS CATIVOS
-         VISITAR OS PRESOS
-         CURAR OS ENFERMOS
-         COBRIR OS NUS
-         DAR DE COMER AOS FAMINTOS
-         DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE
-         DAR POUSO AOS PEREGRINOS
-   ENTERRAR OS MORTOS (1).

As irmandades assim constituídas surgiram em vários pontos do País, sendo a primeira, talvez, a de Santos, instituída, ao que parece, em 1543.
Diz Frei Gaspar da Madre de Deos, em suas “Memórias para a História da Capitania de São Vicente”, o seguinte: “Em Santos, ainda se conserva a lembrança de que Braz Cubas foi o seu fundador. Desejoso de socorrer aos marinheiros que adoeciam, entrou Braz Cubas no projeto de fundar um hospital e Irmandade da Misericórdia. Comunicou seu intento aos moradores principais do porto de Santos, e aprovando todos eles uma obra tão pia, erigiu  na povoação a primeira Confraria da Misericórdia que teve o Brasil” (6).
*
             Afirmam alguns estudiosos que a Santa Casa de Misericórdia de Salvador precedeu a de Santos, mas a documentação comprobatória foi destruída por um incêndio ocorrido durante a Invasão Holandesa.
De qualquer forma, uma e outra, a de Santos e a de Salvador, cuidavam de praticar as chamadas "obras de misericórdia" e com este objetivo instalaram hospitais, chamados "hospitais da miseri­córdia" ou "santas casas".

Por falta de documentação contrária, a Santa Casa da Bahia foi instituída em 15 de agosto de 1549, logo após a chegada de Tomé de Souza, sendo, portanto, contemporânea do colégio do Terreiro de Jesus.
Com a Santa Casa surgiu o Hospital da Misericórdia, cons­truído em terreno doado por Simão da Gama de Andrade, um dos moradores mais ricos e antigos de Salvador. Diogo Muniz Barreto foi o primeiro provedor. Nóbrega, em carta de 1561, faz refe­rência à dita irmandade e, pouco depois, o padre Blasques - também em carta - fez alusão aos indigentes internados no Hospital chamado pelo povo de “Hospital da Cidade”. Uma ou outra pessoa dava ao aludido hospital o nome de “Hospital Nossa Senhora das Candeias”. No século XVII recebeu o nome de “Hospital São Cristóvão”.  A partir de 1893, a Santa Casa de Misericórdia da Bahia concluiu a construção de um novo hospital, no bairro de Nazaré, denominado “Hospital Santa Izabel”.
Foi no primitivo hospital, localizado na Rua da Misericórdia, que se recolheu para ali morrer, Garcia D'Avila, na época com mais de 90 anos de idade.


O historiador Carlos Ott  diz o seguinte:
“Quando Thomé de Souza, em 1549, veio fundar a Cidade do Salvador para aqui instalar a capital do Brasil, era indispensável pensar desde logo na fundação de um hospital. Entre mais de mil homens que dormiam em  parte ao relento ou em casebres mal cobertos com folhas de palmeira, na época das chuvas era inevitável que surgissem doenças /.../ Não admira que nas folhas de pagamentos, de 1549 a 1551, se registrasssem diverersos óbitos. Um deles foi o marinheiro Estevão Fernandes de Távora que, antes de expirar, fez testamento, instituindo como testamenteiro o fidalgo Diogo Moniz Barreto, provedor da Santa Casa. E a este se pagou, a 14 de dezembro de 1549, a quantia de mil e oitocentos reis em mercadorias correspondentes ao salário do defunto nos meses de junho e julho, a novecentos reis por mês/ .../ Ao que parece, isto se deu em abril ou, no máximo, em maio, pois neste mês começam a cair na Bahia fortes chuvas invernais, fato que permite casos de doença, exigindo a organização de um hospital. Foi este instalado em condições tão modestas que o marinheiro Estevão Fernandes Távora, ai tratado nos meses de junho e julho, quis deixar o salário em benefício da instituição pia”
O primeiro médico, Jorge Valadares, foi nomeado físico e cirurgião da Cidade.  Diogo de Castro foi o primeiro boticário.
O hospital foi construído fora da cerca que delimitava a cidade e era extremamente rudimentar, com paredes de taipa de mão, coberto com folhas de palmeiras.
*

"Períodos tumultuosos conheceu o velho hospital, que passou por múltiplas reconstruções e reformas. Quando da invasão dos holande­ses, no século XVII, os batavos ocuparam-no e ali trataram, pelos seus próprios cirurgiões e boticário, os soldados feridos e doentes" (Santos Filho, obra citada).
             Internavam também os hospitais de Misericórdia. soldados e mari­nheiros feridos ou adoentados. Suas acomodações eram acanhadas para o atendimento de tal mister e os próprios chefes militares, reconhecendo a gravidade do problema, criaram pequenas enfermarias nos alojamentos de algumas guarnições.
Decretada a expulsão da Companhia de Jesus, em 1759, teve fim o ensino jesuíta e o Marquês de Pombal - ferrenho inimigo dos jesuítas - mandou instalar nos colégios da Companhia, hospitais desti­nados ao atendimento das corporações militares, logo denominados "Hospitais Reais Militares". As principais cidades do Brasil passaram a ter, além da Santa Casa, um Hospital Real Militar. O da Bahia foi instalado no antigo Colégio dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus.

Foi assim, sob os auspícios do antigo Colégio dos Jesuítas (então transmudado em Hospital Real Militar) e da Santa Casa de Misericórdia que nasceu e viveu o ensino médico brasileiro, aqui representado pela "Escola de Cirurgia da Bahia", a primeira do País.

Criada em 18 de fevereiro de 1808, por D. João VI, e instalada no Hospital Real Militar de Salvador, nele permaneceu até 1815, quando - por meio da Carta Régia de 29 de dezembro daquele ano - foi a "Escola de Cirurgia" transformada em "Academia Médico-Cirúrgica". Dizia a referida Carta Régia que as lições deveriam ser dadas "de acordo com o provedor da  Santa Casa" (2).

No Hospital Real Militar o curso praticamente se limitou ao ensino da anatomia e da cirurgia. A transferência para o Hospital da Santa Casa foi efetivada em 17 de março de 1816. Dentre os alunos desta fase, alguns se tornaram eminentes, tais como JONATHAS ABBOT, FRANCISCO DE PAULA ARAÚJO E ALMEIDA, FRANCISCO MARCE­LINO GESTEIRA, FORTUNATO CÂNDIDO DA COSTA DORMINDO E ANTÔNIO TORQUATO PIRES, que foram lentes, sendo que os dois primeiros chegaram a ser diretores da Faculdade (2).
            Ainda em 1829 as aulas eram ministradas nos corredores da Santa Casa. Apesar de figurarem entre os lentes nomes então dos mais bri­lhantes no cenário médico e político do país, a Academia vivia numa pobreza franciscana, sem móveis, sem utensílios, sem nada! Em 1829, “ o número de alunos matriculados era somente  17" (5).

Por força do decreto de 3 de outubro de 1832, a Academia Médico - Cirúrgica transformou-se em "Faculdade de Medicina" e no ano seguinte voltou a funcionar no antigo Colégio dos Jesuítas e com ela o Hospital da Santa Casa, também chamado "Hospital São Cristóvão de Caridade", o qual passou a ocupar as instalações do Real Hospital Militar, extinto pouco antes. Sobre o Real Hospital Militar disse Vilhena em suas cartas: "É de admirar a grande desordem que há no hospital em prejuízo da real fazenda e muito mais o ver que nele mandam os cirurgiões-mores dar aos soldados regalos de que eles próprios se dispensam em suas casas; de forma que me persuado ser o Hospital da Bahia o único onde se dá aos soldados, quando o pedem, leite para almoçar, ovos, manteiga, doce indispensavelmente para a sobre­mesa, pão-de-ló, mãos de vaca, a que chamam mocotós e o mais é caruru, vianda que já em outra parte expliquei". E acrescenta: "com estes regalos pois, raro há o que quer sair do hospital!" (2).

Ali, no Terreiro de Jesus, continuaram a Faculdade e o hospital de caridade por cerca de 60 anos, até que a Santa Casa transferiu o seu hospital para o Largo de Nazaré, sob o nome de Hospital Santa Izabel.

Com o correr do tempo as acomodações do Hospital da Santa Casa - no Terreiro de Jesus - tornaram-se incompatíveis com as necessidades do ensino. Em 11 de outubro de 1859 o Imperador D. Pedro II o visitou e  disse o seguinte: "Da Faculdade de Medicina passei para o Hospital da Misericórdia que é MISERÁVEL, sobretudo as enxovias dos doidos, parecendo que a irmandade pretende continuar a obra começada do novo hospital, em Nazaré" (1)

Relata Pacífico Pereira que tais acomodações, nos idos de 1880, eram péssimas e suas condições de higiene, "podiam comparar-se às das enfermarias do antigo hospital de Glasgow, onde Lister fez os primeiros ensaios do seu tratamento. E aqui como lá - completa Pací­fico Pereira - "os efeitos do método listeriano foram igualmente sem precedentes" (2).
            
Luiz Anselmo da Fonseca, em sua memória histórica, referente ao ano de 1891, afirma que o ensino da clínica, naquele ano, estava aquém da importância de seus destinos. São suas palavras textuais:
“O Hospital da Misericórdia da Bahia não está, de modo nenhum, na situação de "preencher, ainda mediocremente, seu duplo e eleva­díssimo fim.
            "Sobre o edifício em que ele funciona já dissemos o necessário para que se possa julgar do grau de sua prestabilidade, que é nenhuma”.
            "Mas o edifício não é só o que merece reparo”.
            "Seria difícil determinar em todos os elementos que o constituem - salas, anfiteatro, enfermaria, leitos, serviço farmacêutico, regime dietético, privadas e esgotos - o que é que não deve ser condenado em nome da ciência e dos mais palpitantes interesses do país e da humanidade" (5).
E acrescenta: "Quem conhece o hospital em que funcionam as clínicas oficiais desta faculdade; a situação das suas enfermarias, a disposição dos seus cômodos; o acúmulo dos seus serviços clínicos, a sua ventilação; a construção dos seus esgotos, quem já teve uma vez sensibilizado o olfato pelas suas emanações; quem ali respira os seus fétidos odores e doentios ares, e conhece, pelo que leu ou pelo que viu, qual o conjunto de circunstâncias que devem tornar saudável um estabelecimento desta ordem, não pode deixar, sob o ponto de vista das grandes intervenções cirúrgicas, de considerá-lo um FOCO DE LETALIDADE, ao invés de um meio de restabelecimento para a saúde" (Ibidem).
            Como remediar tão horrível situação?
            José Olímpio de Azevedo esclarece que a providência divina, ela própria, deu a solução. Diz ele:  “... ­a venerável Ordem Terceira de São Francisco ofereceu à venda o grande edifício do Asilo Santa Isabel, por cento e sessenta contos de réis, fora o preço das desapropriações de pequenas casas contíguas, e o presidente da província, encarregado pelo governo imperial de efetuar a compra  no caso que o edifício pudesse servir aos fins desejados, convidou o conselheiro diretor e os professores da faculdade, a uma visita ao mesmo edifício a fim de darem sua opinião sobre a conveniência da compra"?(8).

"De acordo com o combinado, o presidente, o diretor e vários professores fizeram um exame do belo edifício em questão, o qual foi julgado conveniente para a instalação dos gabinetes e dos labora­tórios após as necessárias adaptações" (Ibidem).

Finalmente, em 1893 foi Inaugurado o Hospital Santa Izabel, no Largo de Nazaré.

            Quem, de sã consciência, pergunto eu, há de negar o concurso extraordinário que o Hospital Santa Izabel, ao longo dos seus cento e qinze anos de funcionamento, tem prestado à classe médica, aos seus ideais e aspirações? Não foi por certo ali, nas suas entranhas, que milhares e milhares de estudantes receberam lições inigualáveis de mestres como José Adeodato de Souza, Antônio Bastos de Freitas Borja, Antônio do Prado Valadares, Antônio Circundes de Carvalho, Albino Leitão, Clementino Fraga, Martagão Gesteira, Fernando Luz, Aristides Novis, Aristides Pereira Maltez, Eduardo Rodrigues de Morais, Armando Sampaio Tavares, José Francisco da Silva Melo e muitos outros?

Não foi em um dos seus laboratórios que, o então assistente de clínica médica ao pôr sob seus olhos, através das lentes de um modesto microscópio, as fezes de pacientes internados em seu serviço nosoco­mial, viu com certa freqüência, "elementos estranhos até então desco­nhecidos em nosso meio"? (4).

"Tratava-se, diz Edgard Cerqueira Falcão, "de ovos de vermes dotados de espículo lateral, cuja proveniência intrigou a curiosidade do observador" (ibidem). Eu me refiro, senhores, a MANOEL AUGUSTO PIRAJÁ DA SILVA, o inesquecível descobridor do SCHISTOSOMA MANSONI, agente etiológico da esquistossomose americana, também chamada "doença de Pirajá da Silva", figura luminar da medicina brasileira.
Este foi apenas um dos feitos extraordinários que Pirajá da Silva e o Hospital Santa Isabel realizaram.
           Ao encerrar sua carreira docente, recebeu o grande sábio significativa homenagem de despedida, assinada por todos os colegas da congregação. Rezava o documento:
           “Estuastes depois a fase larvária do parasista, quando descrevestes os caracteres da furco-cercária e, ainda mais, pesquisastes com plenitude, as lesões causadas no homem pelo S. mansoni.

"E eis porque, com muita justiça, se aliou o vosso nome ao de Manson, designando a esquistossomose dita americana, como "doença Manson - Pirajá da Silva" (ibidem).

"Entre os vossos trabalhos originais, avulta o estudo de duas novas espécies de cogumelos produtores do micetoma podal: Madurella rami­rai e Actinomyces bahiensis" (4).

"Vistes e cultivastes aqui o protozoário causador da leishmaniose tegumentar, de cuja transmissão pelo Phlebotomus intermedius suspei­tastes, concentrastes a solução de tártaro emético até então usada em injeções endovenosas, tornando mais prático o seu emprego no tratamento da leishmaniose e do granuloma venério; escrevestes sobre dois casos de "ainhum"; registrastes na Bahia, os dois primeiros casos de blastomicose; descobristes, em Mata de São João, o Triatona megis­tus, um dos transmissores da doença de Chagas; realizastes estudos sobre os "potós" (Peduros colombinus) e sobre a Crisomia macellaria etc”. (Ibidem).

Tudo isto foi feito nas enfermarias e no laboratório do Hospital Santa Isabel.
*
            
             Com a inauguração do "Hospital das Clinicas", as atividades docen­tes da antiga faculdade passaram para o Canela mas não ficou vazio, a partir da então, o Hospital da Santa Casa, no Largo de Nazaré.  Fermentou nas suas salas, enfermarias e corredores, durante quatro anos, a gênese formadora de uma nova Escola de Medicina.

De 1953 até a data presente, o Hospital Santa Isabel passou a agasalhar no seu seio amigo, uma nova entidade de ensino médico concebida por um grupo de idealistas, dentre os quais se colocaram o  mordomo da Santa Casa e o próprio diretor.

À sombra do idealismo, treze pioneiros criaram, nos idos de 1952, a Fundação Baiana Para o Desenvolvimento da Medicina, com o objetivo precípuo de manter uma escola com os cursos de medicina e saúde pública.

Era Secretário de Saúde, na ocasião, Antô­nio Simões da Silva Freitas. Seu relato é o seguinte: "No meu gabinete" (localizado no antigo prédio da Secretaria, no corredor da Vitória) "reuniram-se no dia 31 de maio daquele ano, além da minha pessoa, Urcício Santiago, Jorge Valente, Orlando de Castro Lima, Colombo Spínola, José Santiago da Mota, Aristides Novis Filho, Adelaido Ribeiro, André Negreiros Falcão, Padre Pinheiro, Cônego Manoel Barbosa, Antô­nio de Souza Lima Machado e René Guimarães. Após darmos por criada a nova fundação, nos dirigimos para o Palácio do Governo a fim de transmitir ao Governador Regis Pacheco a boa nova e dele recebemos o mais entusiástico apoio, com a determinação de que fosse elaborado, de imediato, um convênio pelo qual passassem à disposição da futura escola, todos os serviços médicos e assistenciais do Governo do Estado”.

Era diretor do Hospital Santa Izabel  o  Prof. Aristides Novis Filho, o qual, prontamente, proporcionou todos os meios necessários para o funcionamento nas suas depen­dências, não só da Fundação como da Escola, logo chamada ESCOLA BAHIANA DE MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA.

A Santa Casa de Misericórdia da Bahia - tal como havia feito em 1815, em 1832 e em 1893 com a antiga Faculdade de Medicina - cedeu, de pronto, as instalações do seu hospital.

Ambas as instituições nasceram e viveram dentro do hospital e nele tiveram durante muitos anos as suas sedes, a Fundação, no salão nobre e, no mesmo local, a congregação da escola. Outra não foi a sede do Conselho Técnico-Administrativo.

O primeiro diretor da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, Prof. Jorge Valente, através de sucessivas reeleições, conduziu os destinos da instituição até outubro de 1969. A ele coube a implantação acadêmica e administrativa do novel estabele­cimento. Iniciou também a implantação física, reformando o antigo "Pavilhão Lídio de Mesquita" (Enfermaria Santa Rosa) e o "CTR" (Centro de Tratamento Rápido), ambos pertencentes ao hospital, trabalho este continuado por Orlando de Castro Lima, Celso Luiz Figueiroa e Geraldo Leite.
*

Com a transferência dos serviços da antiga Faculdade para o seu novo hospital, no Canela, alguns claros se abriram no corpo médico do Santa Izabel, a exigirem preenchimento. Por outro lado, "Os Institutos de Previdência atraíram valiosos profissionais, os quais militavam no Santa Izabel. Como pois, solucio­nar a Santa Casa o problema, se os seus parcos recursos não podiam propiciar meios para a concorrência, fixando em seu quadro, médicos dos quais não podia dispensar tão valiosa colaboração?. Eis porque recebeu a Santa Casa, com entusiasmo, a nova Escola, sentindo a colaboração de que carecia, transfundindo nos seus quadros, duplamente desfalcados, novos elementos, cujo padrão técnico eram do  melhor quilate" (Ibidem).
*
E assim continuaram sempre integrados no elevado mister de bem servir a pátria, a Faculdade de Medicina da Bahia, a Escola Baiana de Medicina,  o Hospital Santa Izabel e a Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
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           A Santa Casa de Misericórdia da Bahia não é a única do Estado. Várias outras foram criadas, com a mesma finalidade. João Batista de Cerqueira, em seu  estudo sobre o assunto, relata que existiam, nos meados do século  XIX, as seguintes:
·        A de Cachoeira, mantenedora do Hospital Nossa Senhora da Natividade, criada em 1734.
·        A de Santo Amaro, mantenedora do Hospital de São João de Deus, criada em 1778.
·        A da Cidade de Nazaré,  mantenedora do Hospital Gonçalves Martins, criada em 1831.
·        A de Maragogipe, criada em 1850, hoje extinta.
Relata a mesma fonte: “Vivia-se a infância da nação brasileira. O país estava se definindo acerca dos rumos que tomaria. A independência não estava consolidada. Ainda se comemorava a vitória dos caboclos brasileiros sobre as forças portuguesas. No povoado de São José das Itapororocas, área territorial da Villa de Feira de Sant’Ana, ainda ecoavam os feitos de Maria Quitéria de Jesus (3).
Mais adiante acrescenta: “A Villa já transpirava progresso quando, oriundo da Cidade da Bahia, aqui chegou, em 1855, aos 29 anos, nomeado Juiz de Direito da Comarca, o Dr.Luiz Antônio Pereira Franco” ( Ibidem).
O jovem, diplomado pela Faculdade de Direito de Olinda, era muito religioso e por demais sensível aos padecimentos humanos, pelo que ficou profundamente impressionado com os enfermos que, sem recursos financeiros, perambulavam pela Vila da Feira de Santana. Como um apóstolo da caridade, congregou os cidadãos mais sensíveis, os mais abastados, as autoridades e os moradores mais idealistas e, a exemplo do que aconteceu em outras cidades do Brasil, fundaram uma irmandade “com fins caritativos e assistenciais”.
Assim surgiu a Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana, criada em 25 de março de 1859. Diz ainda João Batista de Cerqueira: “O Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Feira de Santana, então elaborado, refletia muito bem o ambiente político, religioso e cultural em que vivia a sociedade feirense. O documento da primeira organização comunitária e caritativa do município tomou por base os ensinamentos cristães e ,igual a seus congêneres, defende a caridade como a maior missão a ser cumprida”.
A irmandade curaria em seu hospital os enfermos pobres e desvalidos dando, aos que morressem, sepultura condigna em Cemitério próprio.
*
O primeiro passo para a criação do hospital foi surgiu no mesmo ano de 1859, quando o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina visitaram a Vila de Feira de Santana, nos dias  6 e 7 de novembro. Naquela ocasião o Imperador, atendendo ao pedido formulado por uma comissão encabeçada pelo Dr. Luiz Antônio Pereira Franco, “visitou um terreno e recomendou ao dr. Bonifácio de Abreu, médico da Corte, que o vistoriasse”.
 Em seguida fez uma doação de dois contos de reis para a criação do Imperial Asilo de Enfermos, posteriormente denominado Hospital D. Pedro II.
O óbulo, apesar de significativo, não era o suficiente para a construção de um hospital, orçado, na época, em quase vinte e sete contos de reis.
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Quanto ao cemitério, a Lei Provincial n. 844, de 3 de agosto do ano seguinte, fez com que o cemitério já existente, até então administrado pela Câmara Municipal, fosse doado à Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana.  O terreno, pertencente a antiga Fazenda “Cerca de Pedras”, continha além do cemitério, uma casa “de adobes e coberta de telhas, com quatro jenelas e uma porta na frente, duas salas e cinco quartos, em mau estado de conservação” (Ibidem) . Esta casa, depois de reconstruída ao custo de quase um conto de reis, serviu de sede para o Hospital provisório.
O intento da construção de um edifício destinado ao Hospital definitivo permaneceu vivo, sendo para tanto constituída uma comissão. As obras tiveram início e correram normalmente nos anos de 1877 e 1878. Em seguida o projeto foi paralisado e em 1881 a parte construída foi coberta e transformada em depósito o qual, cinco anos mais tarde, foi dividido em pequenas casas para serem alugadas.
Finalmente, em 1884, graças ao auxílio do Governo Provincial, a Santa Casa adquiriu um dos melhores imóveis de Feira de Santana, de propriedade do Coronel João Pedreira de Cerqueira. No ano seguinte, deu-se
A mudança do Hospital provisório para o definitivo, sendo a inauguração do novo nosocômio realizada no dia 28 de fevereiro de 1886.
“O novo Hospital -- diz João Batista de Cerqueira – tornou-se uma atração turística da cidade, uma passagem obrigatória para os visitantes ilustres. Pelas suas dependências,passaram, além dos pacientes de Feira e de toda a região, políticos de projeção nacional, juristas, religiosos e autoridades militares”(3).
Muitos visitantes deixaram elogios, tais como Ruy Barbosa, Madureira de Pinho, Fernando São Paulo, Bráulio Xavier, Aurélio Rodrigues Viana, Nelson de Souza Oliveira, Benjamin Salles, Anísio Teixeira, Alfredo Brito, Honorato Bonfim, Jayme Junqueira Ayres,  príncipe Pedro de Orleans Bragança, Inácio Menezes, Benjamim Salles, Amado Bahia, Armando Sampaio Tavares, Tertuliano Carneiro e muitos outros.
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O tempo, na sua inexorável trajetória, foi passando. Feira de Santana foi crescendo, a carência de leitos foi aumentando e a necessidade de um novo hospital se tornou gritante.
O movimento neste sentido começou em 1939 mas foi somente em 1943 que ele se tornou viável, quando foi constituída uma comissão para  perseguir o intento.
  O Governo do Município destinou, em 1946, trinta mil cruzeiros para desapropriação de uma área de terra a ser designada pela Santa Casa e em 21 de setembro do mesmo ano o prefeito, dr. Carlos Valadares, concedeu o auxílio de trinta e cinco mil cruzeiros para a construção de um novo hospital.
O terreno foi adquirido no ano seguinte e as obras, sob o influxo de todas as camadas da sociedade, tiveram início, sendo o atual Hospital D. Pedro de Alcântara inaugurado no dia 4 de janeiro de 1957, com a presença do Prefeito João Marinho Falcão, do Ministro da Saúde, Dr. Maurício de Medeiros, e várias  autoridades.
Graças ao empenho de Wilson da Costa Falcão, Augusto Matias  e outros idealistas, tem a Feira de Santana, nos dias atuais,  o Hospital D. Pedro de Alcântara.
Dotado de todas as condições necessárias, inclusive de um novo e operante Centro de Estudos, este hospital está destinado a se tornar um grande hospital- escola, aos moldes do que, no passado, foram o Hospital Santa Izabel, o Hospital da Santa Casa do Rio de Janeiro, o da Santa Casa de Santos e muitos outros pelo Brasil afora.
Desde os primeiros anos de sua implantação a Universidade Estadual de Freira de Santana  encontrou nesta casa abrigo para os estudantes de enfermagem que aqui  realizaram estágios curriculares.
Em 18 de setembro de 2006, com a presença de autoridades, professores e dirigentes universitários, foi assinado convênio objetivando dar a este hospital o status de hospital-universitário.
Todos os caminhos estão abertos. Feira de Santana, graças ao empenho dos Reitores Anacy Paim e José Onofre, bem como do dr. João Batista de Cerqueira e seus companheiros de Colegiado, dispõe de um curso de Medicina, planejado e estruturado sob os moldes mais modernos da pedagogia universitária.

BIBLIOGRAFIA


01 - Azevedo, S. Olimpio de - Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia. Bahia, 1883.

02 - Carvalho Filho, José Eduardo Freire de - Notícia Histórica sobre a Faculdade de Medicina da Bahia. Typ. Bahiana. Bahia, 1909.

03-  Cerqueira, João Batista de  - Assistência e Caridade. A história da Santa Casa de Misericórida de Feira de Santana – 1859 a 2006 . UEFS, 2007.

04 - Falcão, Edgard Cerqueira - Pirajá da Silva, o inesquecível descobridor do Schis­tosoma Mansoni. Oficinas Gráficas da "Revista dos Tribunais". S. Paulo, 1959.

05 - Fonseca, Luiz Anselmo da - Memória Histórica da Faculdade de Medicina. Typ. Bahiana, 1891.

06- Segundo da Costa, Paulo – Hospital de Caridade da Santa Casa de Misericórdia da Bahia – 450 anos de Funcionamento (1549-1999) . Contexto & Arte Editorial – 1ª. Edição. Salvador, 2000.































































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