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By Ferramentas Blog

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AVULSO- O AVÔ DE EDGAR CERQUEIRA FALCÃO

                                          SINCERO AGRADECIMENTO AOS

MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA DE

PORTUGAL PELO INCENTIVO AO

DESENVOLVIMENTO DESTE

BLOG
 
HOTEL VILA GALÉ
CASCAIS, PORTUGAL 
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AOS AMIGOS DA TAILÂNDIA,
NOSSO ABRAÇO
 
BANCOC
TAILÂNDIA
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O AVO DE EDGARD DE CERQUEIRA FALCÃO


Trecho da palestra proferida na Academia de Medicina da Bahia

Geraldo Leite

No livro comemorativo do cinqüentenário da descoberta da cura das leishmanioses por GASPAR VIANA, EDGARD DE CERQUEIRA FALCÃO relatou o seguinte: "desde os bancos acadêmicos na gloriosa Faculdade de Medicina da Bahia, habituara-me a ouvir dos meus mestres, particularmente do Prof. Pirajá da Silva, os mais encomiásticos louvores aos excelsos predicados do inditoso pesquisador, tão cedo roubado ao círculo dos vivos.


 E ficara indelevelmente gravada em meu cérebro infantil impressionante cena que jamais se esmaeceu e sempre tenho presente diante dos olhos. Foi por volta dos fins de 1911 começos de 1912. GASPAR VIANA não havia ainda lançado sua formidável descoberta. O botão de Brotas (denominação aplicada na Bahia às formas proliferativas da leishmaniose cutânea, constituía molestia infectuosa cujo mecanismo de transmissão se desconhecia então por completo, apesar de se lhe haver esclarecido a etiologia (PIRAJÁ DA SILVA identificara-o, à luz do microscópio, ao famigerado botão do Oriente, nele demonstrando a presença da Leishmania tropica, em 1910). Temia-se o contágio direto de maneira assustadora. Meu avô materno, antigo morador do maior foco da doença na capital da Bahia, o distrito de Brotas, pagava-lhe tributo de forma muito dolorosa. O formigueiro (termo popular empregado outrora na Bahia para designar determinadas feridas da pele, de evolução prolongada, cuja cicatrização se acompanhava do aparecimento de graves e horríveis lesões em certas partes do corpo) que lhe surgira numa das pernas desaparecera, cedendo lugar a devastadoras lesões das mucosas aero­digesticas. Dia a dia seu estado físico decaia. Uma de suas últimas visitas à nossa casa paterna assinalou-se por certo espetáculo que traduz eloqüentemente o pavor atrás referido. Estava a brincar (tinha então 8 anos incompletos) nas vizinhanças de nossa residência quando avistei a figura austera do meu avô, que para se dirigia. Corri-lhe pressuroso ao encontro para tomar a bênção. Num gesto instintivo, evitou-me o contacto, receioso de contaminar-me. Ao mesmo tempo para agradar-me, chamou um vendedor de balas que se encontrava nas proximidades e mandou que escolhesse uma cestinha delas. De posse do presente, corri para casa, antecipando-me à chegada dele. Ao cruzar com meu pai, tive de lhe explicar a origem daquela dádiva, que era para mim do maior agrado. Incontinente, arrebatou-me meu genitor a cestinha em questão e tratou de atirá-la fora. Não houve explicações de minha parte que o dissuadissem de não ter existido o menor contacto do meu avô com o saquinho de balas. Fiquei a chorar num canto, sem compreender que aquela violência representava excesso de zêlo paterno, temeroso do contágio da leishmaniose".

"GASPAR VIANA, alguns meses depois dessa ocorrência, anunciava os primeiros excelentes resultados colhidos com o emprego do tártaro emético estibiado nos casos da horripilante doença. Muitos dos nossos conhecidos, companheiros de desdita do meu avô, vieram a se proteger da enfermidade, graças á ação benfazeja do novo método proposto. E a minha família lamentava apenas que o nosso entre querido não houvesse sobrevivido um pouco mais (seu falecimento ocorreu a 23 de junho de 1912) a fim de beneficiar-se da terapêutica salvadora".

E continua EDGAR CERQUEIRA FALCÃO: "Estereotipados em minha retentiva, desde que me entendi, os horrores que a leishmaniose representava para o gênero humano, antes da era gaspariana, passei a encarar esse benfeitor magno da humanidade nimbado por luminoso halo de taumaturgo. Mais tarde, agigantou-se minha admiração por ele, ao tomar ciência da extensão de benefícios que a sua genial intuição levara aos sofredores de outras paragens, a vitória sobre o Kala-azar indiano ultrapassou o limite dessa admiração, tocando às raias da veneração".

Não obstante o progresso alcançado, o caráter mutilante da forma mucosa provoca, ainda hoje, alterações no relacionamento social. Para medir o nível de tais alterações, TINOCO e Cols. (1990) estudaram a reação psicológica dos moradores aos doentes de leishmaniose na região endêmica do sul da Bahia. Os AA. identificaram diversas crenças falhas e um nível de rejeição bastante forte que admitiu a existência de relação entre o medo do contágio e a atitude de rejeição.

As mutilações causadas pela doença, sobretudo na sua forma mucosa, provocam deformações faciais suficientemente graves, a ponto de determinarem alterações no relacionamento do indivíduo com a família e a sociedade.


O nível de rejeição ao doente portador de leishmaniose tegumentar com úlcera no nariz foi, na região do sul da Bahia, segundo os AA. supracitados, a seguinte:

a)           "Acho que é uma coisa feia mas não sinto repulsa" {43%)

b)           "Evito olhar e chegar perto mas não sinto repulsa" (13%)

c)            "Sinto repulsa e evito demonstrar isso à pessoa" {30°/a)

d)           "Sinto repulsa e não demonstro isso com gestos e ações ( 1 %)

e)            "Sinto repulsa e demonstro isso com gestos e ações "{13%)

Foram ouvidos 98 moradores, durante os meses de junho a outubro de 1987.

COSTA e Cols., na mesma época, selecionaram 15 pacientes portadores de leishmaniose cutâneo - mucosa, forma grave, e buscaram , através de entrevista psicológica, conhecer aspectos, da vida de cada um, antes de contrair a doença, no decorrer e após o tratamento: Concomitantemente, realizaram 25 entrevistas com a comunidade onde residem os pacientes, com a intenção de avaliar as reações da mesma ao doente com leishmaniose. Constataram entre os pacientes entrevistados que 73,3% deles sentiam-se marginalizados; 60% sentiram-se afastados do convívio social e 66% tiveram dificuldade de retornar ao trabalho.

Vemos assim que hoje, decorrido quase um século da grande descoberta de Gaspar Viana, os problemas psico-sociais da leishmaniose tegumentar americana são ainda muito graves e afetam  expressiva parte da população.


 

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