English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

sábado, 19 de fevereiro de 2011

291- RAIMUNDO NINA RODRIGUES (NINA RODRIGUES)

NOSSA SAUDAÇÃO AOS MÉDICOS E
ESTUDANTES DE MEDICINA DE
 PORTUGAL
CASCAIS, PORTUAL
*
AOS BRASILEIROS QUE ESTÃO NA
FRANÇA, NOSSO ABRAÇO
PARIS, DOCE PARIS...
================================================================================
291- RAIMUNDO NINA RODRIGUES
(NINA RODRIGUES)
RAIMUNDO NINA RODRIGUES
*
Nasceu em uma fazenda, na cidade de Vargem Grande, Maranhão, a 4 de novembro de 1862.
Em 1882, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, seguindo o curso até 1885, quando se transferiu para o Rio de Janeiro, onde foi diplomado em 1887.
Sua tese inaugural versou sobre amiotrofias de origem periférica.
Depois de rápida passagem por São Luis, transferiu-se para Salvador, em 1889.
Em 6 de setembro do mesmo ano, após concurso, foi nomeado professor adjunto da 2ª cadeira de Clínica Médica. Em 4 de março de 1891, passou a  lente substituto da 5ª. Seção (Higiene e Medicina Legal).
Em 21 de fevereiro de 1895, foi nomeado, por concurso, professor catedrático de Medicina Legal.
Da sua alentada bibliografia, constam livros e artigos sobre diversos  assuntos, de modo especial Medicina Legal, Antropologia, Psicologia e Sociologia.

Aceito membro de várias associações científicas internacionais, colaborou  em periódicos científicos europeus e norte-americanos. Foi redator  dos Arquivos de Psiquiatria, de Buenos Aires e Vice Presidente da Sociedade de Medicina Legal de New York.

“Trabalhando na interseção de dois saberes, o médico e o jurídico, Nina Rodrigues constituiu e institucionalizou – através de procedimentos especificamente médico-legais, aceitos como cientificamente confiáveis por médicos, advogados e policiais – uma nova especialidade médica brasileira, a Medicina Legal. Utilizando a metodologia científica mais avançada de sua época, ele foi um dos pioneiros da Antropologia brasileira, pelos seus estudos sobre religião, genealogia, língua e mitologia dos negros afro-brasileiros. Estes trabalhos, sobretudo, e sua atividade como professor e pesquisador, trouxeram-lhe notoriedade nacional e internacional “ (2).

“Possuidor de sólida e diversificada cultura, , o Prof. Nina Rodrigues marcou época. Seus estudos pioneiros sobre antropologia, versando sobre crenças, mitos e valores dos afro-brasileiros, tiveram grande repercussão no cenário médico mundial” (Ibidem).
O Instituto Médico Legal que hoje tem o seu nome, foi, sem dúvida,a mais viva das  suas aspirações.
 Em janeiro de 1905, um incêndio destruiu parte da Faculdade de Medicina e o laboratório de Medicina Legal, lugar de trabalho de Nina Rodrigues. Segundo o Diário da Bahia, foram destruídos “diversos trabalhos seus, de importância científica; trabalhosa coleção de ossos humanos, cerca de 50, medidos e tratados; a cabeça de Antonio Conselheiro, o crânio de Lucas da Feira, além de uma outra coleção de crânios escolhidos, o que foi enormíssima perda” (5).

Em 1909, iniciou uma viagem á Europa.

 “Na noite da chegada em Lisboa, a 17 de maio de 1906 – diz Nogueira Brito – e estando hospedado no Hotel de Inglaterra, teve o Dr. Nina Rodrigues uma hemoptise leve. No dia 19, promoveu-se uma conferência de médicos lisbonenses. A hipótese de tuberculose foi afastada, “pelo fato dos pulmões ficarem transparentes sob a ação dos raios X.
 A 19 de junho, chegou o Dr. Nina Rodrigues a Paris, para saber o parecer de facultativos daquele país” ( 2 ).
Faleceu na capital francesa,  a 17 de julho de 1909.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

1.       Freire de Carvalho Filho, José Eduardo – Notícia Histórica sobre a Faculdade de Medicina da Bahia. Salvador, 1909.
2.       Nogueira Brito, Antônio Carlos – A morte e o sepultamento de Nina Rodrigues. Disponível em  http:// www.istoriae cultura .pro.br/c iencia
Epreconceito/lugaresdememoria/faculdadedemedicinadabahia,htm. A
cesso em 26 de novembro de 2009.
3.       Ribeiro, Marcos A.P. – A morte de Nina Rodrigues e suas repercussões.
Acesso em 26 de novembro de 2009.
4.  Sá Oliveira, Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador, 1992.
5.  Sociedade Brasileira de História da Medicina. Raimundo Nina Rodrigues. Disponível em http:WWW.sbhm.org.br/índex.asp?p=medic
Os_view&código=200. Acesso em 26 de novembro de 2009.
     =========================================
APÊNDICE I
NINA, O LEGISTA
(Gustavo Barroso, Revista O CRUZEIRO, edição de 28 de abril de 1956)

*
“06 de Outubro de 1897
O General Comandante Arthur Oscar publica Ordem do Dia número 145:

“Viva a República dos Estados Unidos do Brasil ! Está terminada a Campanha de Canudos. Desde ontem que os batalhões das forças expedicionárias passeiam suas bandeiras sobre as ruínas da cidadela, com consciência de bem haverem cumprido o seu dever”

O corpo de Antônio Conselheiro é localizado no santuário da Igreja Nova.
“Aos seis dias do mês de outubro de 1897, os abaixo assinados examinaram, por ordem superior, os escombros da casa denominada Santuário, residência de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, onde se presumia existirem seus despojos mortais, dando como resultado o exame, que se limitou à situação e hábito externo, o seguinte: Na encosta da parede interna, numa das três seções em que se dividia a referida parede, encontrou-se uma sepultura guardando um cadáver com os seguintes caracteres: braços cruzados no peito, deitado sobre uma esteira de carnaúba e envolto num lençol branco. Vestia longa túnica de pano azul costurado na fimbria; a cintura abotoada daí até a gola, tendo por baixo dessa túnica uma camisa e ceroula de algodão nacional. Calçava alpercatas de sola. O cadáver media um metro e sessenta de comprido, era de cor morena e idade presumível de sessenta ou cinqüenta e cinco anos. Estava em começo de putrefação e apresentava cabelos negros, longos e bastos, fronte estreita, rosto largo e magro de maçãs salientes, guarnecido de barbas longas, nariz, destruído na porção musculosa, a maxila inferior, como a superior,desprovida de dentes; mãos descarnadas e pés pequenos. Concluído o exame, que não pôde ser levado adiante por deficiência de meios, reconhecemos pelos sinais descritos e pelo testemunho de muitos prisioneiros e várias pessoas presentes, entre as quais o membro presente da comissão acadêmica, João Pondé, ser o corpo de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido por Antônio Conselheiro, que aí residia como chefe de um núcleo de fanáticos e avantureiros da povoação de Canudos, no sertão da Bahia”. Dr. José Curió (Major-Médico), Dr. Mourão, Dr. Gouveia Freire (Capitães-Médicos), Dr. Jacob Gayoso (Tenente-Médico), João Pondé (6ª anista de Medicina),
FONTE:  Apud Gustavo Barroso, Revista O CRUZEIRO, edição de 28 de abril de 1956.


APÊNDICE II
IEMANJÁ É VIOLENTADA PELO FILHO E DÁ À LUZ OS ORIXÁS
(Prandi, Reginaldo – Miotologia dos Orixás. São Paulo, 2006)
*
  No começo do século XX, Nina Rodrigues transcreveu o mito que aprendeu com Ellis, que o reproduzira do padre Baudin, afirmando não ter similar na Bahia. O mito é o seguinte:
*
“Da união entre Obatalá, o Céu,
e Odudua, a terra,
nasceram Aganjú, a terra firme,
e Iemanjá, as águas.
Desposando seu irmão Aganju,
Iemanjá deu à luz Orungã.
Orugã nutriu pela mãe incestuoso amor.
Um dia, aproveitando-se da ausência do pai,
Orungã raptou e violou Iemanjá.
Aflita e entregue a total desespero,
Iemanjá desprendeu-se dos braços do filho
Incestuoso e fugiu.
Perseguiu-a Orungã.
Quando ele estava prestes a apanhá-la,
Iemanjá caiu desfalecida
E cresceu-lhe desmesuradamente o corpo,
Como se suas formas se transformassem em vales, montes, serras.
De seus seios enormes como duas montanhas nasceram dois rios,
Que adiante se reuniram num só lagoa,
Originando adiante o mar.
O ventre descomunal de Iemanjá se rompeu
e dele nasceram os orixás.
Dadá, deusa dos vegetais,
Xangô, deus do trovão,
Ogum, deus do ferro e da guerra,
Olocum, divindade do mar,
Olossá, deusa dos lagos,
Oiá, deusa do rio Oxum,
Obá, deusa do rio Obá,
Ocô, orixá da agricultura,
Oxóssi, orixá dos caçadores,
Oquê, deus das montanhas,
Ajê Xalugá, orixá da saúde,
Xapanã, deus da varíola,
Orum,o sol,
Oxu, a lua.
Outros e mais outros orixás nasceram do ventre violado de Iemanjá
E por fim nasceu Exu, o mensageiro.
Cada filho de Iemanjá tem sua história,
Cadda um tem seus poderes”.


APÊNDICE III
XANGÔ É REJEITADO POR SEUS SÚDITOS
 (Prandi, Reginaldo – Miotologia dos Orixás. São Paulo, 2006)
XANGÔ

Outro mito narrado por Nina Rodrigues, é o seguinte:
*
“Quando Xangô foi rejeitado por seus súditos,
Ele se retirou para a floresta
e numa árvore se enforcou.
Oba so !
O rei se enforcou, correu a notícia.
Mas ninguém achou seu corpo
E foi dito que Xangô tinha sido transformado num orixá
E seus sacerdotes proclamaram:
Oba ko so !
O rei não se enforcou !
Desde então, quando troa o trovão
e o relâmpago risca o céu,
os sacerdotes de Xangô entoam:
O rei não se enforcou !
Oba ko so ! Obá kossô !
O rei não se enforcou !”


APÊNDICE IV
EXU GANHA PODER SOBRE AS ENCRUZILHADAS
(Prandi, Reginaldo – Miotologia dos Orixás. São Paulo, 2006)
*
“Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio,
não tinha profissão,  nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ir à casa de Oxalá, todos os dias.
Na casa de Oxalá, exu se distraia,
Vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá,
Mas ali ficavam pouco,
Quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, vim o velho Orixá,
Apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho Orixá.
Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo.
 ---------------------------------------------
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada
por onde passavam os que vinham à sua casa.
Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse
uma oferenda a Oxalá.
Cada vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer.
Oxalá não queria perder tempo
Recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para visitas.
Exu tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.
Exu coletava os ebós para Oxalá.
Exu fazia bem o seu trabalho
e Oxalá decidiu recompensá-lo.
Assim, quem viesse à casa de Oxalá
Também pagaria alguma coisa a Exu.
Exu mantinha-se sempre a postos
Guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ego, poderoso porrete,
Afastava os indesejáveis
e punia quem tentasse burlar sua vigilância.
Exu trabalhava demais e fez ali a sua casa,
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada
Sem pagar alguma coisa a Exu.
*
Este mito, com muitas variantes colhidas em terreiros brasileiros, ensina uma das mais caras tradições do candoblé, segunda a qual o aprendizado iniciático deve ser lento e baseado na observação, de preferência sem que o iniciando faça perguntas. Quem pergunta muito não aprende. Também afirma a idéia de que o número 16 para os orubás é a perfeição, a totalidade, o número que se repete frequentemente em mitos e fórmulas rituais”.
==========================================================
                                              APÊNDICE V
NANÃ FORNECE A LAMA PARA MODELAGEM DO HOMEM
(Prandi, Reginaldo – Mitologia dos Orixás. São Paulo, 2006)
NANÃ

“Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fezer o mundo e modelar o ser humano,
O Orixá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o home de ar, como ele.
Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho-de-palma, e nada.
Foi então que Nanâ Burucu veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu centro e arma,
e de lá retirou uma porção de lama.
Nanâ deu a porção de lama a Oxalá,
o barro do fundo da lagoa onde morava ela,
a lama sob as águas, que é Nanã.
Oxalá criou o homem, o modelo no barro.
Com o sopro de Olorum ele caminhou
Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
Mas tem um dia que o homem morre
e seu corpo tem que retornar à terra,
voltar à natureza de Nanã Burucu.
Nanã deu a matéria no começo
mas quer de volta no final tudo o que é seu”


APÊNDICE VI
O PROCESSO DE MORTE

(Extraído de  Ribeiro, Marcos A. P. – A morte de Nina Rodrigues e suas Repercussões, disponível em http:// www.afroasia.ufba.br/afroasia_n16_ p54.pdf.)
*

Em 5 de abril de 1906, Nina Rodrigues é indicado pela Congregação da Faculdade  de Medicina dda Bahia delegado  o IV Congresso Internacional de Assistência Pública e Privada, que se realizaria em Milão, entre os dias 23 e 27 de maio daquele ano.
Em 4 de maio ele emite seu último parecer como médico-legista, sobre "lesões contundentes seguidas de morte". No documento, o professor registra, com letra trêmula e insegura, que seu precário estado de saúde não permitia "fundamentar largamente a consulta  pedida", limitando-se por isso a responder estritamente aos quesitos forenses.
Nos últimos meses, Nina Rodrigues andara alquebrado; adquirira grave infecção em viagem ao Conde, no litoral norte da Bahia.
Tentando recuperar-se, faz vilegiatura em Alagoinhas, aprazível cidade, 100km a noroeste de Salvador. Retorna parcialmente reabilitado à capital baiana. Então recebe o convite para representar o Brasil em Milão.
Mas, no dia do embarque para sua primeira viagem a Europa está pálido, débil, descrente de sua recuperação. Assim mesmo parte.
Nina Rodrigues, sua mulher, Maria Amélia Couto Nina Rodrigues, e a filha de doze anos, Alice Nina Rodrigues, chegam a Lisboa em 17 de maio. Hospedam-se no Hotel de Inglaterra. A longa viagem marítima provavelmente fizera recrudescer a doença. E na própria noite do desembarque Nina Rodrigues apresenta uma crise de hemoptise. Os médicos são chamados.
A conferência dos médicos lisboetas, realizada em 19 de maio, afasta a hipótese de tuberculose pulmonar, pela transparência das radiografias pulmonares; porém, a exclusão dessa suspeita diagnóstica não pode ser assegurada: casos de tuberculose pulmonar confirmados pelo exame de escarro e sintomatologia, coexistem com a transparência radiográfica dos pulmões.
Um jornal de Lisboa, o "Correo da Europan, assim o descreve: "Compungia vê-lo! Um homem de tanto merecimento, contando apenas 44 anos de idade tão bem aproveitada em trabalhos tão úteis e de incontestável valor, estava inteiramente perdido! Sofria de um cancro no fígado. A operação era impossível, tendo em vista a fraqueza do enfermo".
Na capital portuguesa, as suspeitas diagnósticas oscilam entre "cancro do fígado e colecistite calculosa; segundo os médicos portugueses, o caso só se resolveria com uma intervenção cirúrgica, da qual Nina Rodrigues declina.
Ele segue para Paris, centro médico mais importante, onde é conhecido entre os especialistas franceses, os quais, segundo Afrânio Peixoto, "o recebem festivamente".
Chega em 19 de junho.
Os colegas franceses fazem os mais desencontrados diagnósticos: dilatação do coração e da aorta, tuberculose do pericárdio, abscesso aureolar do fígado, tuberculose das serosas (pleura, pericárdio e diafragma).
A doença avança.
Aproveitando breve arrefecimento dos sintomas, Nina Rodrigues visita tradicionais fornecedores da Faculdade de Medicina da Bahia, na rue de Bac, para escolha dos instrumentos que equipariam o instituto médico-legal em construção na Bahia.
Em 3 de julho, seu irmão mais próximo, o tenente Temístocles Nina Rodrigues, viaja a Paris para assisti-lo na doença.
Em 10 de julho, durante visita a morgue de Paris, onde assiste autópsias e coleta informações sobre o funcionamento do serviço,
Nina Rodrigues subitamente desfalece, sendo conduzido ao hotel.
Em 13 de julho, em seu hotel, o Nouvel Hotel, rue Lafayette, 49, pelas 3 horas da madrugada, Nina Rodrigues é acometido de forte hemoptise e fica muito prostrado. Diz aos amigos: "Isso é o começo do fim".
Um médico português residente em Paris, cujo nome não foi identificado, acompanha seus últimos momentos, passando as noites a seu lado. Um colega brasileiro, Dr. Eduardo Moraes, também está presente. As visitas são suspensas. E apenas os médicos ficam a volta do leito, calados.
Nina Rodrigues mantém a lucidez até o fim. Percebendo a aproximação da morte, pede um padre e se dirige a esposa: "Sei que vou morrer: cuide de nossa filha, e vá para a Bahia no dia 27, em companhia do Dr. Eduardo de Moraes e família". Ele comprara passagens de volta para si e sua família num vapor inglês que partiria para o Brasil em 27 de julho.
Nina Rodrigues morre as 7 horas de 17 de julho de 1906, em seu quarto de hotel parisiense. A autópsia do corpo é realizada por Paul Brouadel (a quem Nina Rodrigues admirava), importante legista francês, diretor da Faculdade de Medicina de Paris e fundador do Instituto Médico-Legal e Psiquiátrico da mesma faculdade.
Práticos dos anfiteatros de anatomia da Faculdade de Medicina de Paris, que Nina Rodrigues costumava freqüentar, embalsamam o cadáver, no fim da tarde de 17 de julho, na presença do comissário de polícia e amigos, entre os quais os colegas Eduardo Moraes, Anísio Circundes de Carvalho e João Cerqueira. Após o embalsamamento, o corpo é depositado num ataúde duplo de zinco e madeira, guarnecido de prata.
No início da manhã de 18 de julho, acompanhado de pequeno cortejo de carros, o ataúde é transportado em coche fúnebre para a igreja de Nossa Senhora de Lorette, onde é depositado num catafalco.
Às 9 horas é celebrada a missa de encomendação do corpo, assistida por algumas famílias brasileiras e colegas da Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Piauí e Pernambuco, presentes em Paris naquela data.
Findos os atos religiosos, o esquife, coberto de coroas de flores, é conduzido para um estrado de ferro, junto a porta lateral direita.
Depois do lacramento  do  caixão pelo comissário de polícia, este descende
a uma cavidade subterrânea, fechada por portas metálicas rentes ao chão, onde aguardaria o transporte para a Bahia.
A notícia da morte de Nina Rodrigues chegou a Bahia através de um telegrama particular, provavelmente emitido por algum dos amigos e colegas que o assistiram em sua agonia, expedido de Paris as 7:50h do dia 17 de julho, para o diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, seu concunhado e amigo, Dr. Alfredo Tomé de Britto.
Ao tomar conhecimento de sua morte, Alfredo Britto imediatamente telefona para a secretaria da Faculdade, determinando a suspensão das aulas e o hasteamento da bandeira nacional a meio mastro.
Este foi o ato inicial que deflagrou a cadeia de homenagens póstumas a Nina Rodrigues, na Bahia e no Brasil.
No início da tarde de 17 de julho, uma comissão de alunos do 6º ano da Faculdade vai a casa de Alfredo Britto, tratar das homenagens  que seriam prestadas a Nina Rodrigues.
Na sessão da Congregação da Faculdade realizada em 18 de julho, Pacífico Pereira, decano dos professores, faz o elogio fúnebre de Nina Rodrigues, propõe a inserção de voto de pesar na ata da sessão e sua imediata suspensão. Vários congregados apresentam suas propostas de homenagens, que em resumo são as seguintes: luto da Faculdade por oito dias, telegrama de condolências a família, nomear de Nina Rodrigues a morgue em construção. Todas são aprovadas.
Á medida que tomam conhecimento da notícia, as principais instituições baianas homenageiam Nina Rodrigues. A Faculdade de Direito e a Escola Politécnica suspendem as aulas, hasteiam seus pavilhões e a bandeira nacional a meio mastro, e adotam luto por três dias. O Conselho Municipal, a Câmara dos Deputados e o Senado Estadual inserem votos de pesar nas atas das respectivas sessões.
A Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, realiza em 24 de julho sessão solene em homenagem a Nina Rodrigues, com a presença do Ministro do Interior, Felix Gaspar.
O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia encerra suas atividades e hasteia a meio-mastro a bandeira nacional. O Colégio Estadual da Bahia suspende as aulas e convida os alunos a comparece ás exéquias de Nina Rodrigues. O Jornal de Notícias hasteia a bandeira  nacional a meio mastro.
Em 20 de julho, representantes de alunos de todos os anos da Faculdade de Medicina da Bahia, presididos pelo professor João Fróes, decidem o seguinte: solicitar ao Ministro do Interior que as despesas com o transporte do corpo, exéquias e funeral de Nina Rodrigues fiquem por conta do Governo Federal, considerando que ele morrera durante uma viagem oficial, na qual representava o País (o valor das despesas seria de aproximadamente vinte contos de réis); abrir uma subscrição para publicação da obra Os africanos no Brasil, então no prelo; nomear uma comissão de alunos para, junto com representantes da Faculdade de Direito e Escola Politécnica, organizar as homenagens póstumas, inclusive a recepção do corpo; publicar poliantéia em sua homenagem.
Porém, o ministro do Interior, embora lamentando muito, respondeu que não podia atender a solicitação porque a verba para "eventuais" estava esgotada; um valor daquele montante só poderia ser liberado através de decreto com a autorização do Legislativo.
Em 21 de julho, alguns maranhenses que estudam em escolas superiores baianas vão a bordo do paquete "Olinda", solicitar do conterrâneo, o desembargador e deputado federal Cunha Machado, intervenção junto ao Governo Federal, para obtenção de pensão para a viúva Nina Rodrigues. Ele aquiesce.
O  deputado estadual Souza Britto recebe um telegrama do Governador do Maranhão, Benedicto Leite, declarandose pronto para atender o pedido de verbas para as homenagens póstumas a Nina Rodrigues, mas dizendo que necessitava que se especificasse o nome da pessoa que iria receber o dinheiro, porque os telegramas enviados eram assinados apenas pela "Comissão".
Entretanto, seja porque o Governo do Maranhão não estivesse realmente disposto a enviar o dinheiro, seja porque a comissão encarregada das homenagens não remeteu os dados requeridos, o fato é que todas as despesas com traslado, exéquias e funeral foram pagas pela comunidade acadêmica da Bahia. Deste modo, em 13 de agosto, a comissão encarregada das homenagens póstumas envia, com auto-suficiência irônica, este telegrama ao Governador do Maranhão:"Terminadas homenagens em memória ao Dr. Nina Rodrigues, dispensamos auxílios prometidos".
Às 15:30h de 11 de agosto, o paquete inglês "Aragon" fundeia no cais dos navios mercantes de Salvador, trazendo a bordo o corpo de Nina Rodrigues. Ato contínuo, a comissão de recepção, composta por alunos das escolas superiores de Salvador, é conduzida numa lancha e em escaleres para receber os restos mortais. Após as formalidades exigidas pela Inspetoria da Saúde dos Portos, a comissão sobe a bordo do "Aragon" e apresenta, em nome da "mocidade acadêmica da Bahia", as condolências a viúva Nina Rodrigues e á  sua filha, Alice.
O ataúde estava encerrado num volume, guardado no porão da proa. Dois volumes são entregues à comissão: um contém o esquife; o outro, coroas fúnebres. Os volumes são içados, depositados numa galeota, e rebocados por um vapor até o arsenal da Marinha. No arsenal, o esquife já fora do invólucro, é conduzido pelos membros da comissão para um coche de primeira classe, estacionado em frente a seu portão principal.
O coche fúnebre, acompanhado por numeroso cortejo de alunos e professores das escolas de Medicina, Direito e Politécnica, com os respectivos estandartes envoltos em crepe negro, avança lentamente pelas ruas Arsenal da Marinha, Alf'ândega, Princesa, Santa Bárbara,Barão Homem de Mello, praça Castro Alves e ladeira da Montanha.
O cortejo fúnebre chega à igreja de São Bento as 18h. Professores e alunos retiram o féretro do coche e o transportam até a igreja que, como descreve um jornal da época, "apresentava um aspecto simples, mas de uma severidade expressiva".
Do alto das portas principais pendem cortinas de casimira negra, presas por sanefas de veludo da mesma cor, ornadas de prata; nas portas principais há escudos com inscrições alusivas ao evento.
Tribunas, galeria do coro e púlpitos também se encontram ornamentados com casimira e veludos negros. No centro da nave está o cadafalso em estilo renascentista, com oito metros de altura, composto de abóbada apoiada em quatro colunatas, sobre a qual ergue-se uma cruz, construído pelos monges do mosteiro anexo. Ladeiam-no incensórios de prata, tocheiras e vasos com flores e crótons. Em frente ao cadafalso destacam-se os estandartes das escolas superiores da Bahia: ao centro, o da FMB; a direita, o da Escola Politécnica; A esquerda, o da Faculdade de Direito.
Quinze turmas, cada uma com quinze estudantes, revezam-se em turnos de uma hora, sem interrupções, no velamento do corpo, até o momento em que o féretro sai da igreja para o cemitério do Campo Santo. Estão presentes ás exéquias: Alfredo Thomé de Britto, diretor da Faculdade de Medicina e concunhado de Nina Rodrigues; Temístocles Nina Rodrigues, irmão do falecido; Antonio Almeida Couto, irmão da viúva; Braz do Amaral, Guilherme Rabello, Pacífico Pereira, Pedro da Luz Carrascosa, Josino Cotias, Bonifácio Costa, professores da Faculdade de Medicina; Alexandre Maia Bittencourt, Archimedes de Siqueira Gonçalves, professores da Escola Politécnica; Carlos Devoto, diretor do Ginásio Estadual.
Pouco antes das 9 horas de 12 de agosto, sábado, a banda do 1ºCorpo de Regimento Policial, em uniforme de gala, ataca a primeira marcha fúnebre. Nesse momento a nave está repleta de pessoas: familiares, autoridades civis, militares e eclesiásticas do Estado da Bahia, populares e a imprensa.
As missas começam a ser celebradas pelas 9:30h, no altar-mor e nos laterais. A do altar-mor é celebrada pelo prior dos beneditinos; quatro noviços entoam cantos gregorianos. Findos os atos religiosos, uma turma de seis estudantes retira o esquife do cadafalso e o deposita sobre o coche fúnebre, conduzido por três parelhas de cavalos castanhos escuros, estacionado à frente do templo.
O coche fúnebre abre o cortejo. Em seguida, vêm o estandarte da Faculdade de Medicina e o andor com a coroa desta faculdade; a coroa da família; o estandarte da Faculdade de Direito; o estandarte da Escola Politécnica, com uma coroa em forma de locomotiva, tendo nas laterais da casa do maquinista as datas de nascimento e morte de Nina Rodrigues; encerra-o a banda da polícia militar.
Muitas pessoas se aglomeram ao longo das ruas por onde passa o cortejo fúnebre. A chegada ao Campo Santo acontece As 11 horas.
Retirado do coche, o féretro é conduzido à capela do cemitério, por professores e alunos da Faculdade de Medicina, e pelo irmão do falecido, Temístocles Nina Rodrigues.
O corpo é encomendado, transferido até a borda da sepultura aberta à direita da capela, num sítio alto, de onde se avista parte do bairro da Barra  e depositado num estrado de madeira forrado de preto, com franjas prateadas, a poucos metros da tribuna sobre a qual o estudante de Direito.  Aydano Sampaio pronuncia um discurso.
A seguir, fala o professor catedrático da Faculdade de Medicina, Guilherme Rabello.
Guilherme Rabello inicia seu discurso aludindo ao Hamlet, de Shakespeare. Diz que diante do "túmulo aberto", os eternos problemas do ser ou não ser, que tanto perturbaram o "merencório príncipe da Dinamarca", perdem o sentido. Toda discussão intelectual, toda contenda entre sistemas e escolas, e mesmo o mergulho do pensador no "oceano profundo e insondável que é o mundo da inteligência", nada significam. A vida, segundo ele, só teria sentido na "intransigência destemida e austera ao serviço de um ideal"; não pudesse alguma vez o coração do homem abrir-se para o amor e a justica, a alma sofreria da "amaríssima súplica de Leconte de Lisle" que o corpo de Nina Rodrigues foi recebido na Bahia com o mesmo recolhimento e orgulho com que os restos mortais do "heróico prisioneiro de Santa Helena" (Napoleão) fora na Franca, em 1840. E que diante do corpo inânime do "preclaro colega", discípulos, colegas, e todos que amam sua obra, terão nela o "nobre estímulo", para, em nome da ciência, da Faculdade de Medicina e de sua memória, repetirem com os lábios ungidos, como eco da própria voz de Nina Rodrigues, o "moto supremo" de Goethe moribundo:
"Mehr Licht!".
Em 26 de maio de 1908, na presença do governador da Bahia, Dr. José Marcelino Souza, a morgue da Faculdade de Medicina é inaugurada e recebe o nome de Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues, em sua homenagem. Nina idealizara e projetara o Instituto, ao qual pretendia incorporar a tecnologia mais avançada de sua época.
Como vimos, em seus últimos dias em Paris, doente e debilitado, o professor percorria ruas da cidade visitando possíveis fornecedores e realizava anotações sobre o funcionamento da morgue.
Embora tenha sido um cientista reconhecido nacional e internacionalmente, trabalhando em tempo integral durante toda sua vida adulta, Nina Rodrigues deixou poucos bens e a viúva em situação financeira difícil. A análise de seu testamento revela um sobrado na ladeira de São Bento, onde morava com a família, alguns móveis, entre os quais um piano alemão, e uma biblioteca com cerca de mil volumes, principalmente Medicina e Literatura, adquirida pela Faculdade de Medicina por cinco contos de réis. O sobrado media 6,45m de frente; no primeiro pavimento possuía duas salas, uma de visita, uma de jantar, e dois quartos; no térreo, mais duas salas e dois quartos, cozinha e banheiro. Contava também com pequeno jardim gradeado de ferro e um sótão".

=====================================================================
APÊNDICE VII
DEPOIMENTO DE MARIA THERESA DE MEDEIROS PACHECO

(Extraído de  Medeiro Pacheco, Maria Theresa de – Raymundo Nina Rodrigues. Sinopse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Ano II, No II. Outubro. Salvador, 1987)
*
“Difícil, para o próprio homem, conhecer e entender realmente a trajetória multifária do gênero humano.
As leis da genética regem a união do espermatozóide com o óvulo. Forma-se o novo ser , nasce, cresce, raciocina, aprende, ensina, trabalha, sofre, progride, pesquisa, faz suas criações e as projeta e a humanidade genuflexa agradece as benesses emanadas.
Não somos, porém, todos iguais. Em que pese dizer-se que o “gênio é 95% de trabalho e esforço e apenas 5% de gens possíveis”, há qualquer coisa de distinto  ou de excelso, em determinados seres humanos, diferenciando-os dos demais,marcando-lhes a vida e a estrada percorrida. Para não irmos longe da indagação, que cabedal de conhecimentos humanos e técnicos poderia ter antes dos 24 anos, o poeta máximo da escravatura no Brasil, para deixar tão grandiosa obra? Não há,  portanto, como negar a auréola refulgente de pessoas determinadas que vêm a luz da vida, às vezes, até sem que logo, ao redor, se aperceba, mas, no primeiro instante  em que o clarão se faz, segue num crescendo e sem jamais bruxulear como o fogo de uma tocha inextinguível!
São tantos desse modo, porém, nem todos, repito.
Foi, entretanto, assim, Raymundo Nina Rodrigues.
Bela aparência, calmo, tranqüilo, comedido, introvertido, perspicaz, cuidadoso, fez seus estudos de humanidades na terra que o viu nascer. Polígrafo por excelência, de quem se poderia dizer só haver grandes qualidades.
Aportou à Bahia em 1882, então, com 20 anos, atraído pela celebridade da Escola Mater da Medicina no Brasil, bem ali no Terreiro de Jesus. Entretanto, o ano de 1885 marcava sua transferência para a escola médica do Rio de Janeiro, de onde retornou em 1886, volvendo ao Rio no ano seguinte, concluindo, aí, seu curso e se diplomando em 1887.
Nina Rodrigues escreveu seu primeiro trabalho científico em 1886, sobre  A Morphéia em Anajatuba (Maranhão).
Em 1887, marco de sua diplomação em Medicina, elaborou tese inaugural a respeito das Amyotrophias de origem peripherica, cuja defesa teve lugar em 10 de fevereiro de 1888.
Retornou, logo à Bahia, onde se fez Professor Adjunto de Clínica Médica de nossa Faculdade de Medicina, em 1889; Adjunto de Patologia e de Medicina Legal e Toxicologia (1891).
O ano de 1895 marcava, aposentando-se o ilustre Virgílio Damásio, a ascensão triunfal de Raymundo Nina Rodrigues à Cátedra de Medicina Legal na Faculdade de Medicina da Bahia, e, nessa oportunidade, escreveu o discurso de posse sobre a Medicina Legal no Brasil. Ei-lo assim, Professor maior da disciplina no Brasil.
É vasta a bibliografia deixada por Nina em seus incompletos 44 anos de vida.
Escreveu, inicialmente, e descreveu com minúcias, 51 sérios trabalhos, desde a Clínica Médica, à Higiene, à Medicina Preventiva e Social, como que procurando chegar à sua vocação verdadeira e ao campo imenso, complexo, feiticeiro, encantador e fascinante dessa Medicina Legal a que afinal se filiou, cabendo-lhe, após poucos anos a posse merecida, no Brasil, de “verdadeiro criador da Medicina Legal Brasileira, como diz sempre e tão bem Estácio de Lima.
*
Importante será salientar e comentar, embora, às rápidas, algumas facetas de sua produção literária e científica.
Inicialmente, segundo já referi, pretendeu o grande maranhense incursionar pela medicina preventiva, higiene, clínica médica (1886 – ainda como acadêmico de medicina já publicava suas observações sobre as doenças que assolavam o Maranhão).
Segue-se a fase da antropologia geral e criminal. Suas publicações psiquiátricas se entrelaçam àquelas medicina legal, representando, estas, afinal o seu legado à Medicina Brasileira, porque foi realmente Nina Rodrigues, o criador da Escola Médico Legal Brasileira, com a sua acendrada pesquisa e o seu meticulosos estudo sobre a diferença das respostas do meio ambiente às agressões ao somático e ao psíquico.
Ninguém, até então, se preocupara ou tivera a sensibilidade voltada aos problemas nacionais e regionais atinentes à antropologia.
Tanto escreveu sobre o Negro e com que dedicação! Quanto trabalho! Tanta meticulosidade! Minúcias! Atenção! Verdadeiro pesquisador sobre o assunto! A antropologia, a religiosidade,os idiomas africanos, a história, foram temas muitas e várias vezes estudados, observados e publicados! E ainda dizer-se  que Nina Rodrigues foi racista ...! Esperamos, em breves dias, concluir estudo meticuloso a respeito das publicações de Nina e o negro, para lançarmos a luz as justificativas e as provas formais de que, em vez de ser racista, foi Nina o grande estudioso da raça negra no Brasil, mostrando-se defensor dos seus direitos, a começar pela religiosidade.
Freqüentou centros de estudos importantes da Europa, sempre em mira as comparações, as reações do meio estranho e do Brasil, em relação às doenças e à terapêutica;fez sucessivas publicações em revistas e jornais nacionais e internacionais França, Itália, Argentina. Foi preocupação fundamental sua comparar os resultados laboratoriais europeus e brasileiros, considerando a diversidade das raças, climas, alimentação ...
A Memória Histórica apresentada à Congregação da faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia, em 29 de março de 1897, pelo Prof. Raymundo Nina Rodrigues, não foi além de seus limites, na Congregação, como as demais anteriores. Não permitiram os próprios colegas a publicação. Seria que apenas uma linha pequenina referente ao sistema de governo e de plena e inteira autoria do mestre tanto amedrontasse os seus pares, a ponto de silenciarem a respeito? Seria, outrossim, a leal franqueza exibida em sua “histórica memória” sobre fatos comprovados a cerca do curso de Medicina, e seus defeitos, no ano findo, aludindo a colegas catedráticos pela orientação dada?
Transcrevo, a última oração de Nina no referido documento escrito: “rematando aqui os apontamentos que me pareceram mais dignos de nota sobre as ocorrências do ano findo, entrego-os à vossa apreciação, consciência satisfeita, com o destino, qualquer que ele seja, que na vossa alta sabedoria,aprouver dar-lhe”
Dr. Nina Rodrigues
Bahia, 29 de março de 1897
Meus Senhores:
Oitenta anos se passaram para que a publicação ultrapassasse os umbrais da nossa Faculdade! Somente em 23 de abril de 1975, o Prof. Estácio de Lima, Emérito de nossas Faculdades Federais de Medicina e de Direito, rebuscando a célebre Memória Histórica de Nina Rodrigues, nela não encontrou, segundo suas palavras, algo que ferisse, ou deshonrasse a gloriosa Faculdade de Medicina, não mais no Terreiro de Jesus, mas no Vale do Canela. Apesar dos erros ou pecados graves de uma instituição, para corrigi-los, é virtude e nobreza.
O então preclaro Diretor da nossa Faculdade de Medicina, Professor Renato Tourinho Dantas, com a devida coragem e não menor dignidade, fez publicar a célebre Memória Histórica do grande Nina, prefaciando-a nosso ilustre mestre Estácio de Lima”.
*
NINA RODIGUES, hoje maior do que ontem- foi assim que Estácio de Lima o fez lembrado aos pósteros,  mandando inscrever a frase curta, grave, austera e verdadeira, sobre a lápide, no Campo Santo. A seu lado, jaz Alfredo Britto, diretor da Faculdade de Medicina em sua época, amigo, e, também contendor, naquela memorável réplica de 160 páginas, a respeito dos “Aneurismas da aorta na Bahia”. Termina, entretanto, Prof. Alfredo Britto, dizendo que apesar de estarem em campos opostos no caso vertente, levava ele, “a justa convicção de que não conseguiram diminuir sequer num instante a energia dos sentimentos que nos unem, nem tão pouco a profundeza sem limites de minha sincera admiração por seu notável talento e rara ilustração”.
*
Hoje, de onde estiver, o clarão da luminosidade do seu espírito comprovará que não estagnou o seu ideal. O Instituto Médico Legal cresceu, tomou vulto e se transformou em centro de ensino e pesquisa que será, dentro de um mês entregue à Ciência, constituindo-se num dos maiores e mais notáveis do momento.
Em sua nova moderníssima biblioteca,( a do Instituto Nina Rodrigues)  o aluno e o leitor curioso, encontrarão tudo aquilo de maior interesse, relativamente à Medicina Legal. No pórtico da magnífica Instituição está gravado para sempre, iluminado perenemente o nome do verdadeiro criado da Medicina Legal Brasileira – INSTITUTO NINA RODRIGUES".






Nenhum comentário:

Postar um comentário