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By Ferramentas Blog

sábado, 12 de fevereiro de 2011

241- JULIANO MOREIRA

241- JULIANO MOREIRA
JULIANO MOREIRA
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Nasceu em Salvador, no bairro da Sé, em 6 de janeiro de 1873, filho de Galdina Joaquina do Amaral. Aos 13 anos de idade foi perfilhado por Manoel do Carmo Moreira Júnior, servidor municipal.
Após os preparatórios, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual recebeu o grau de doutor em medicina  em 1891, aos 18 anos de idade, quando defendeu tese sobre “Sífilis Maligna Precoce”.
Como Professor substituto da Seção de Doenças Nervosas, após defender a  dissertação “Disqueinesias arsenicais”, permaneceu na Faculdade de Medicina da Bahia, até 1902.
Nesse período,  publicou na “Gazeta Médica da Bahia” e em periódicos da França e da Inglaterra, trabalhos de grande valor científico no campo da patologia infecciosa, versando sobre  lepra, bouba, leishmaníase cutânea-mucosa, sífilis, micetomas, etc. e foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia  e da Sociedade de Medicina Legal da Bahia.
Entre 1895 e 1902, realizou uma série de viagens à Europa, para tratar-se de tuberculose, contraída pelo excesso de dedicação à pesquisa e ao estudo. Nesse período, freqüentou vários cursos de doenças mentais, realizou estágio  de anatomia patológica com Virchow e visitou as clínicas psiquiátricas mais importantes da Alemanha, Inglaterra, Escócia, Bélgica, França, Itália, Áustria e Suiça.
Regressando ao Brasil, instalou-se no Rio de Janeiro e foi nomeado diretor do Hospital Nacional de Alienados, cargo que exerceu de 1903 a 1930.
Como diretor do Hospital Nacional de Alienados, tornou-se o grande divulgador da psiquiatria científica brasileira, fundou os Arquivos Brasileiros de Medicina, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins e representou o Brasil em congressos médicos, na Europa e nos Estados Unidos (Berlim, em 1900, do qual foi eleito Presidente;  Lisboa, em 1906; Amsterdã e Milão, em 1907; Londres e Bruxelas, em 1913) e ingressou em  várias sociedades científicas dos Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra.
Em 1911 foi nomeado diretor da Assistência Médico-Legal dos Alienados, ocasião em que criou o Manicômio Judiciário.
Em 1928 foi convidado para realizar conferências em universidades Japonesas, em  Kioto, Sendai, Osaka e Tokio, quando foi condecorado com a Ordem do Tesouro Sagrado, pelo Imperador Hirohito.
Faleceu em 2 de maio de 1933, na cidade de Correias, no Rio de Janeiro, para onde se mudara, devido à tuberculose.
Publicou diversas obras de grande valor, das quais destacamos “A evolução da Medicina no Brasil”, obras “que realçaram, ainda mais, os dotes de verdadeiro cientista, um dos maiores de que há notícia no país” (2).
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.       Galdini,  Ana Maria e Cols.- Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente  ao racismo científico – Ver. Bras. de Psiquiatria, vol. 22, n. 4. São Paulo, 2000.
2.       Loureiro de Souza, Antônio- Baianos Ilustres. Salvador, 1973.
3.       Nogueira Brito,  Antônio  Carlos. Ciência  e  Preconceito. Disponível em http://www.historiaecultura.pro.br/cienciaepreconceito/lugaresdememoria/faculdadedemedicinadabahia.htm. Acesso em 22 de dezembro de 2008.
4.       Silva, Rui Machado da – Discurso de Posse. Anais da Academia de Medicina da Bahia, Vol. 8, setembro. Salvador, 1992.
5.       Venâncio, Ana Teresa – As faces de Juliano Moreira: luzes e sombras sobre o acervo pessoal e suas publicações. Estudos Históricos, n. 36. Rio de Janeiro, 2005.

                                                                  
APÊNDICE I
O CONCURSO DE JULIANO MOREIRA
( Disponível em
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JULIANO MOREIRA
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“Ainda era cedo, os portões da Faculdade de Medicina da Bahia nem tinham sido abertos, mas já havia um movimento intenso de estudantes no Terreiro de Jesus. É que eles ardiam de curiosidade para conhecer o resultado co concurso para professor que, finalmente, seria divulgado. Os estudantes tinham acompanhado tudo de perto, lotando o salão nobre em cada uma das fases: prova prática, de didática e defesa de tese.
O Objetivo era evitar “marmelada”, afinal eles sabiam que não seria fácil para o jovem médico negro Juliano Moreira vencer um concurso numa instituição com fama de racista, frente a uma banca examinadora majoritariamente escravocrata. A libertação dos escravos, com a assinatura da Lei Áurea, tinha acontecido a apenas oito anos. Foi por isso que, naquela manhã de maio de 1896, quando finalmente entraram no prédio, os futuros médicos mal puderam acreditar no resultado afixado no mural: ao todo, Juliano tinha recebido 15 notas dez. A vaga era dele.
Aquele foi um dia memorável para todos os estudantes, que comemoraram até altas horas a vitória do mérito sobre o preconceito. Juliano era famoso e querido desde os tempos de estudante, por sua modéstia e genialidade: tinha concluído o curso de medicina com apenas 18 anos de idade, com uma tese que tornou-se conhecida internacionalmente. Agora, com apenas 23 anos, tinha conseguido superar concorrentes poderosos e se tornara o mais novo professor da faculdade. Mas, para esse rapaz – filho de uma doméstica e de um funcionário da prefeitura, que só assumiu o filho quando ficou viúvo – a tornar-se o mais importante psiquiatra brasileiro. A história de Juliano, resgatada pelo psiquiatra e professor Ronaldo Jacobina, ao contrário do que se pensa, não foi um exemplo isolado. Mesmo antes da abolição da escravatura, muitos negros e mulatos baianos, também conseguiram vencer obstáculos que pareciam intransponíveis e entrar para a galeria dos mais importantes engenheiros, advogados, cientistas sociais e médicos do Brasil. Mudar o passado era impossível, mas o futuro, eles sabiam, dependia do que cada um fizesse.
Na Bahia de antigamente, estudar era difícil para qualquer um. Portugal fez tudo o que pôde para retardar o desenvolvimento científico na sua colônia. Era proibido abrir faculdades, imprimir jornais e livros. As poucas escolas não eram reconhecidas por Lisboa e, o que existia, limitava-se ao aprendizado artesanal, das “belas letras” ou estudos teológicos. As coisas começaram a mudar quando a família real precisou refugiar-se no Brasil, em 1808. De um dia para o outro, passou a ser importante tornar o ambiente mais agradável, civilizado, suportável. Ao longo do século XIX, as alterações no sistema educacional ,foram contínuas,mas ainda insuficientes para mudar o quadro. O censo de 1870 informa:cerca de 85% dos brasileiros e baianos eram analfabetos. Claro, a situação era especialmente grave entre os negros e pior ainda entre os escravos. Havia até uma lei proibindo estes últimos de estudarem...”

                                  
                              APÊNDICE II
VISITA DE ALBERT EINSTEIN AO BRASIL, EM 1926
(PICCINI, WALMOR J. Psychiatry on line Brazil – Disponível em http://www.polbr.med.br/arquivo/wal0702.htm)
JULIANO MOREIRA
“Um fato histórico pouco divulgado foi a visita de Albert Einstein ao Brasil, em 1926. Há controvérsias, pode ter sido em 1925. O fato é que o ilustre cientista esteve hospedado  no Hotel Glória do Rio de Janeiro e no dia sete de maio falou para o mundo científico brasileiro na sede da Academia Brasileira de Ciências. Sua conferência foi apresentada em francês e o assunto extremamente atual  na época: Resultados obtidos na Alemanha nos Estudos sobre a Natureza da Luz, comparando a teoria ondulatória e a dos quantas (Esta conferência foi publicada no Vol. 1, número 1, pag. 1:3 da Revista da Academia Brasileira de Ciências).
Einstein surpreendeu-se ao encontrar na presidência dos trabalhos um senhor de olhos grandes e penetrantes, pele escura, e franzino. Era Juliano Moreira, presidente da Academia Brasileira de Ciências e reconhecido pela inteligência brasileira não só como um grande médico, mas “como um sábio, no mais amplo e rigoroso significado dessa expressão”.
Seu currículo na Academia foi o seguinte:
1917/1920 – Vice –Presidente
1020/1923-  Vice-Presidente
1923/1926- Vice-Presidente
1926/1929- Presidente
30/04/1929- Presidente Honorário
Na Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal ele recebeu o título de Presidente Perpétuo.
Que estranho fascínio esse homem exercia nos colegas e nas pessoas que o cercavam. Foi admirado e venerado por seus pares e reconhecido mundialmente.
Segundo seu discípulo Afrânio Peixoto, de quem extraímos muitas das informações, Juliano era múltiplo. Foi médico, tropicalista, dermatólogo, sifilógrafo, alienista, psicólogo, naturalista e historiador da Medicina. Sob qualquer ângulo que examinarmos a história de Juliano Moreira, ela é extraordinária. Quem poderia imaginar tão brilhante carreira para um menino negro nascido a  6 de janeiro de 1873, na cidade do Salvador, Bahia, Bairro da Sé. Criado pela mãe,foi reconhecido mas tarde pelo pai. Começou a estudar no Colégio D.Pedro II e depois no Liceu Provincial. Entrou cedo para a Faculdade de Medicina (1886) e formou-se com 18 anos, em vésperas de completar 19. Durante o curso e sempre através de concursos, foi interno  da Cadeira de Moléstias Cutâneas e Preparador de Anatomia Médico-Cirúrgica. Sua tese de doutoramento foi sobre Etiologia da Sífilis Maligna Precoce (Segundo Afrânio Peixoto, essa Tese mereceu honrosas referências do sifilógrafo Buret e neurologista Raymond);
Seu concurso para Lente da Faculdade de Medicina (Clínica Psiquiátrica e Doenças Nervosas) foi uma luta árdua, contra a inveja, o preconceito, as picuinhas acadêmicas que já existiam naquela época. O Prof. Tilemont Fontes não facilitava a vida de Juliano. Sobre ele assim se expressou Afrânio Peixoto: “O titular da Cadeira, então, esse manso, sorria, não dava aula, tinha fama de inteligente, por que não produzia nada, mas alunos virgens e delicados convinham que lhes resumia suficientemente a especialidade.”
Ana Maria Oda e Paulo Dalagalarrondo em seu excelente artigo sobre Juliano, citam: “Em seu discurso de posse, ao ser aprovado no concurso para professor da Faculdade de Medicina da Bahia, em maio de 1896, Moreira descreveu de forma tão elegante quanto contundente, o que parece ser sua experiência pessoal com relação ao marcante preconceito de cor na sociedade brasileira de então. Endereçando-se “ quem se arreceie  de que sua pigmentação seja nuvem capaz de marear o brilho desta faculdade”, disse “Subir sem outro bordão que não seja a abnegação ao trabalho, eis o que há de mais escabroso(...) Em dias de mais luz e hombridade o embaçamento externo deixará de vir à linha de conta. Ver-se-á, então que só o vicio, a subserviência e a ignorância são que tisnam a pasta humana quando a ela se misturam (...). A incúria e o desmazelo que petrificam (...) dão àquela massa humana aquele outro negor(...)”
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A vida na Bahia não estava fácil para Juliano, se por um lado era querido pelos alunos e admirado pelos colegas, por outro se sentia preso às amarras de um sistema hierárquico discriminador. Foi então que surgiu o convite do Ministro José Seabra para mudar-se para o Rio de Janeiro e assumir o Hospital Nacional de Alienados”.
Em 1928, foi convidado pelas Universidades de Tóquio, Kioto, Sandai, Hokaido, Fuknoka, Osaka, etc, no Japão, para fazer conferências sobre assuntos de sua especialidade. Ali foi recebido com especial deferência e o Imperador conferiu-lhe a Ordem do Tesouro Sagrado. Depois de visitar as cidades de maior importância no extremo oriente, seguiu para Europa, a fim de efetuar, em Hamburgo e Berlim conferências, ocasião em que foi alvo de grandes homenagens.
Assim foi a vida de um dos maiores médicos do Brasil.”

ANEXO III
DEPOIMENTO DE ÁLVARO RUBIN DE PINHO
(Extraído de Rubin de Pinho, Álvaro – Juliano Moreira. Sinopse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Volume II, No II.
Outubro, Salvador, 1978)
COLÔNIA JULIANO MOREIRA
JACAREPAGUÁ, RIO DE JANEIRO
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“Nos que conviveram com Juliano Moreira ficou o testemunho unívoco de que suas qualidades de erudição e talento andavam empararelhadas  com outras bem definidas: as do caráter. Tenaz e atuante, mas generoso e conciliador. Dele escreveu Afrânio Peixoto: “Governou com o passado, contemporizando, benigno,verdadeiro alienista”... “É o triunfo da razão, inteligente, compreensiva, razão piedosa e irônica mas, e só ela, Razão. “São Julião” , chamou-o  Humberto de Campos.
Por motivo de doença, aposentou-se em 1930, do cargo de Diretor do Hospício Pedro II. As últimas décadas tinham comportado diversas interrupções de atividade, à medida em que o mal ressurgia em novos surtos. Em 2 de maio de 1933, faleceu em Corrêas, no Estado do Rio, para onde se transferira, visando tratamento sanatorial.
Poucos anos antes, em carta a Ulisses Paranhos, escrevia: “Em cada um de meus discípulos rememoro uma quadra da mocidade. E você revive um das mais floridas, - a dos meus 30 anos, quando como cenobitas vivíamos esquecidos do mundo, entre as paredes do velho Hospício de S. João de Deus, da Bahia.”
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Em 1902, viajou ao  Rio, para assistir ao embalsamento de seu amigo e mestre Manoel Victorino. Eram dias coincidentes com os da posse do Presidente Rodrigues Alves, que teria como Ministro do Interior e Justiça o Dr. José Joaquim Seabra. Através de Afrânio Peixoto, já, então, no Rio, estabelece-se ligação entre Seabra e Juliano. Este, iniciado o ano de 1903, recebe o convite do Ministro para dirigir, no Rio, o Hospital Nacional de Alienados.
Na então Capital de República, em crescente prestígio profissional, político e social, processa-se a fase gloriosa da atuação de Juliano Moreira.
O Hospício torna-se o grande centro de assistência, pesquisa e formação de psiquiatras, de indelével marca na história da Medicina brasileira.
Reformam-se as instalações do nosocômio. Atualizam-se as técnicas de diagnóstico e tratamento. Criam-se as Colônias de Engenho de Dentro e de Jacarepaguá. Elaboram-se textos que o Congresso Federal transforma  em leis. Cria-se a Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal. Estabelece-se uma Classificação Brasileira  das Doenças Mentais. Multiplicam-se as publicações científicas individuais e de equipe. Da produção pessoal de Juliano, merece registro a acentuação sempre maior na temática de interesse nacional. Ele próprio lidera a convocação de reuniões nacionais e, durante cerca de 30 anos, participa de quase todos os conclaves internacionais relacionados à Psiquiatria e à Higiene Mental, então nascente. Médicos dos mais notáveis tiveram, no Hospício Nacional, alguma forma de treinamento: Miguel Pereira, Fernandes Figueira,, Austragésilo, Esposel, Helion Povoa, Genival Londres, Bruno Lobo, Collares Moreira. Entre os psiquiatras: Afrânio Peixoto, Ulysses Vianna, Pernambuco Filho, Heitor Carrilho, Adauto Botelho, Odilon Galloti, Fábio Sodré, Cunha Lopes. E, mais, a revelar a repercussão da influência de Juliano, Luiz Guedes em Porto Alegre e Ulisses Pernambucano em Recife, iniciadores  de escolas de marcada atividade e reformuladores de assistência psiquiátrica em seus Estados.
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Sua transferência para a metrópole, antes que houvesse realizado, na terra de nascimento, a grande obra que o notabilizou, não lhe retirou os vínculos afetivos que manteve, até a morte, com pessoas e coisas baianas. E a Faculdade deve considerar-se honrada por ter tido como aluno e lente esse vulto de proeminência indiscutível na Medicina do País.”






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