English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ANTÔNIO JOSÉ ALVES

ANTÔNIO JOSÉ ALVES


*


Pai do poeta Antônio de Castro Alves. Natural de Salvador, onde nasceu em 1818, sendo seu pai o Major José Antônio da Silva Castro, o Periquitão (heroi da Independência do Brasil).
Colou o grau de doutor em Medicina, em 1841, pela Faculdade de Medicina da Bahia. Foi o únco, em sua turma, a tornar-se professor da Faculdade (3)
Foi lente substituto da Secção Cirúrgica, em 1855. Lente de Clínica Externa, em 1866. Regeu, sucessivamente, as cadeiras  de Anatomia Descritiva, Química Mineral, Física, Anatomia Geral e Patologia.
Trabalhou, como cirurgião, no Hospital de Caridade, da Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
Diz Sá de Oliveira que, no referido hospital, o Professor José Alves “praticava intervenções da mas alta responsabilidade técnica e os resultados somente se explicavam pelo asseio rigoroso que lhe era particular.  Daí a atenção que despertava seus atos operatórios” ( 2 ).
Manuel Vitorino, assinalou: “Antônio José Alves, vencendo as péssimas condições do Hospital de Caridade, em todo caso, pratica, com sucesso, a alta cirurgia, ao mesmo tempo que, na primitiva instalação de que dispunha a Faculdade, faz verificações microscópicas. As lições que o grande cirurgião ensaiou dar a respeito da microscopia e sua aplicação, só muitos anos depois passarão a ser matéria obrigatória na faculdade” ( 1 ).
Em 1858, tentando recuperar a saúde de sua esposa, reconstruiu o solar da chácara  Boa Vista, em Brotas, onde posteriormente funcionou o Hospital Juliano Moreira. Ali, o Dr. Antônio José Alves instalou sua Casa de Saúde.
Era pai de Antônio de Castro Alves, o maior poeta do Brasil e foi o autor da Memória Histórica da Faculdade de Medicina, concernente ao ano de 1857.
Faleceu em 1866, e foi considerado, pelos seus colegas de congregação, “um dos maiores cirurgiões do Brasil”.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

1.     Castro Alves -  Disponível em htp://www.projetomemoria.art.br/Castr             ro Alves/cronologia/cronologia.html.   Acesso  em   10  de  janeiro  de 2009.
2.     Sá de Oliveira, Eduardo – Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador, 1992.
3.     Tavares-Neto, José – Formados de 1812 a 2008 pela  Faculdade de Medicina da Bahia. Feira de Santana, 2008.

APÊNDICE I
“IMPETUOSIDADE DOS JOVENS ACADÊMICOS DE MEDICINA DA BAHIA, NO SÉCULO XIX (1858)”
NOGUEIRA BRITO, ANTÔNIO CARLOS – A MEDICINA BAIANA NAS BRUNAS DO PASSADO. SALVADOR, 2002.


*
Referente a casos isolados de desentendimentos, e mesmo agressividade, envolvendo estudantes de medicina, reporto-me a um "affaire", singular, por certo, que resolvi trazer a lume pelo seu ineditismo, fruto de pesquisas por mim desenvolvidas em manuscritos inéditos e originais.
O sucesso ocorreu em 7 de novembro de 1858, dentro da secretaria da Faculdade de Medicina, ao Terreiro de Jesus, envolvendo um estudante de medicina, cursando o 3º ano e o DR. ANTONIO JOSÉ ALVES (1818-1866), pai do imortal poeta Castro Alves.
O Dr. Antonio José Alves era um dos mais hábeis cirurgiões na sua época. Lente substituto da Seção Cirúrgica em 1855 e lente de Clínica Externa no período de 1862 a 1866, foi professor interino de Anatomia Descritiva, Química Mineral, Física e Anatomia Geral e Patológica.
Em 9 de novembro de 1858, o diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. João Baptista dos Anjos oficiou ao presidente da província da Bahia, dando conta de um incidente verificado na secretaria da Faculdade, comunicando que “neste momento acaba de dar-se na Secretaria d´esta Faculdade um fato que pelas circunstancias de que se acha revestido, e pelo motivo por que foi praticado merece a mais séria consideração, por que elle  se encaminha a desrespeitar a Autoridade e romper o nexo que deve unir os súditos á seos superiores”. E historiou: “quando se achavam reunidos na Secretaria para exercer as funções do seu cargo nos exames para que tinham sido designados os diferentes Professores da Faculdade, e entre eles o DR. Antonio José Alves, observou-se que o estudante do 3º ano de nome José Cardoso Oliveira Guimarães Junior, que na véspera tivera feito exames, e que se achava na mesma Secretaria para obter do Secretario a certidão do predito exame, logo que este documento foi-lhe entregue, dirigiu-se ao mencionado Dr. Antonio José Alves dentro da mesma Secretaria, e depois de muito insultá-lo com palavras desrespeitosas, passou á vias de fato, machucando a certidão, e atirando-lhe  á face, e pondo-lhe mãos violentas, sendo necessário para evitar maiores danos, que os outros Professores e empregados da casa interviessem para pôr termo á tal insolência; e tendo eu dado ordem aos contínuos que o prendessem a ordem do Dr. Chefe de Polícia, foi Ella cumprida, até que apresentando-se o Cadete, comandante da guarda da enfermaria dos presos da justiça do Hospital da Misericórdia, Francisco Luis de Magalhães Fontoura, do 2º  Batalhão de 1ª Linha com os seos soldados lhe foi encarregado de minha parte que prezo o conduzisse ou fizesse conduzir ao Tribunal do Sr. Chefe, o que tendo ele prometido fazer,deixou-o evadir-se, mostrando com tal ato estar combinado com o delinqüente, ou pelo menos não ter animo para cumprir seus deveres. Este ato de agressão da parte do estudante referido tem por causa, segundo se colige das afrontas, que proferira de supor, que na nota de reprovação, que tirara no exame de véspera tenha toda a parte o Professor a quem agredira por ter sido um dos seus vogais. Expondo o que acaba de suceder tenho por fim inteirar V. Excelência do fato criminoso praticado pelo referido estudante afim de proceder conforme as Leis”

*

Outro fato, ocorreu, alguns anos depois, segundo  pesquisas do Prof. Antônio Carlos Nogueira Britto:
“Em 14 de novembro de 1871, o vice-diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr.Vicente  Ferreira Magalhães, relatou em ofício ao presidente da Província, nos termos seguintes: “tendo sido reprovado no dia 11 do corrente o estudante do 1º ano médico Affonso Lustosa, e havendo desrespeitado ao Dr. Francisco Rodrigues da Silva, ao sair da Faculdade, ameaçando-o com um chapeu de sol, quando foi contido na agressão que intentara  por vários estudantes que o rodearam, reuni na forma da lei, a congregação da Faculdade, no dia 13 para dar-lhe conta do ocorrido. Ouvida a Congregação a exposição do fato, e colhidas as informações necessárias, resolveu ela impor ao estudante referido a pena do artigo 162 dos Estatutos” (Ibidem).
======================================================
APÊNDICE II
“A CEMITERADA”
REIS, JOÃO JOSÉ – A MORTE É UMA FESTA. SÃO PAULO, 1999

"Em 18936, uma multidão destruiu o cemitério do Campo Santo em Salvador.
Inaugurado três dias antes, ele fora construido por uma empresa que objivera do governo o monopólio dos enterros na cidade. Até aquela data, as pessoas eram enterradas nas igrejas, costume considerado essencial para a salvação das almas. A revolta contra o cemitério foi feita em defesa de uma vida melhor no outro mundo"
Doutor em História pela Universidade de Minesota, Estados Unidos, e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Bahia:
“Extraordinário acontecimento teve lugar na Bahia do século XIX: uma revolta contra um cemitério.  O episódio, que ficou conhecido como “Cemiterada”, ocorreu em 25 de outubro de 1836. No dia seguinte entraria em vigor uma lei proibindo o tradicional costume de enterros nas igrejas e concedendo a uma companhia privada o monopólio dos enterros em Salvador por trinta anos.
A Cemiterada começou com uma manifestação de protesto convocada pelas irmandades e ordens terceiras de Salvador, organizações católicas leigas que, entre outras funções, cuidavam dos funerais de seus membros. Naquele dia, a cidade acordou com o barulho dos sinos de muitas igrejas. A reunião fora marcada para acontecer no Terreiro de Jesus, no adro da igreja da Ordem Terceira de S. Domingos. De suas sedes, marcharam para ali centenas de membros de irmandades.
Do Terreiro, os manifestantes seguiram para a Praça do palácio (hoje Praça Thomé de Souza) , uma caminhada de poucos minutos.
Os confrades lá chegaram com pompa, vestindo seus hábitos e capas, carregando cruzes e as coloridas bandeiras que identificavam cada irmandade. Segundo relato do presidente da província da Bahia na época, Francisco de Souza Paraíso, “todas, ou quase todas as irmandades se apresentaram com suas insígnias ante o Palácio do Governo. Uma verdadeira procissão religiosa, que tirou a legitimidade do uso da força contra os participantes”.
Mas não só os membros das irmandades responderam ao chamado dos sinos. Logo apareceram muitas outras pessoas. A cidade estava alerta para os acontecimentos. Nos dias anteriores à manifestação circulara um abaixo assinado denunciando os “cemiteristas”, como foram rotulados os adeptos do Campo Santo – pois este era o nome do novo cemitério – principalmente contra seus proprietários (José Augusto Pereira de Matos, José Antônio  de Araújo e Caetano Silvestre da Silva, os quais se associaram com o objetivo de construir e explorar comercialmente um dou dois cemitérios em Salvador).
Em frente ao Palácio muitos discursos foram feitos contra a empresa e o manifesto de 280 assinaturas, encabeçadas pelo poderoso Visconde de Pirajá, além de outras petições de irmandades foram entregues ao presidente da província. Este decidira receber os representantes das irmandades, e só estes, mas enquanto dialogava com os líderes o palácio seria invadido por manifestantes, membros ou não das confrarias. Pedia-se a anulação da lei que havia proibido os enterros nas igrejas e concedia o monopólio de sepultamentos.
Terminadas as negociações, o palácio foi abandonado, com alguma ajuda da polícia, e a praça evacuada lentamente sob novo repique de sinos das igrejas.
Após a manifestação na praça do palácio, os participantes “entusiasmados com o espetáculo das cruzes, das opas, hábitos de terceiros, tomaram a direção do cemitério” (Francisco Martins).
Perto da praça ficava o escritório da empresa funerária, que foi apedrejado enquanto os manifestantes gritavam contra os sócios: “Morra José Antônio de Araújo”, palavra de ordem que, numa revolta desse tipo, era de uma adequação perfeita.
Enquanto apedrejavam, davam vivas às irmandades e morras aos pedreiros livres, e de repente apareceu um “morra o cemitério !”.
Diante da violência na praça, o presidente se apressou em deslocar trinta policiais para reforçar um destacamento policial postado no Campo Santo, mantendo também em alerta homens da artilharia do Exército.
A multidão chegou ao cemitério antes das novas tropas.
Todos se dirigiram ao cemitério com machados, alavancas e outros ferros, e em número de mais de três mil pessoas, em menos de uma hora, deram com o cemitério em baixo, quebrando tudo e deitando fogo no que podia arder.
No Campo Santo, o estrago foi quase completo, e os manifestantes não gastaram apenas uma hora, mas quase toda a tarde.
Nem a capela foi poupada, sendo atacada ao som do seu próprio sino.
Terminada a operação no Campo Santo, os manifestantes retornaram ao centro da cidade triunfantes e com grande alarido.
Um indignado estudante de medicina, Antônio José Alves, escreveu seis anos depois: “Nenhum de nós deixa de recordar como em troféus trazia pelas ruas públicas desta cidade a escória da plebe os fragmentos dos mantos funéreos, dos carros, e das tumbas, dando vivas diferentes, e até ameaçando aqueles que se mostravam descontentes de semelhante ato, ou procurando desfeitear a alguém que simpatizasse com a instituição que eles acabavam de aniquilar!”.
*
Em 1839, o terreno e equipamentos do Campo Santo foram avaliados em cinquenta e oito contos e trezentos e noventa e sete mil reis que, pagos em doze parcelas trimestrais com juros de 1% ao mês, mais outras despesas, atingiu no final a soma de noventa e oito contos de reis. Em lei de 12 de abril de 1839, o governo da Bahia aceitou pagar aos donos da empresa. Ainda em 1839 a Santa Casa ofereceu comprar por seis contos, que foram recusados.  Em janeiro de 1840 uma nova proposta  da Santa Casa, no valor de dez contos foi aceita, com evidente prejuízo para o governo’’



APÊNDICE III
O FILHO, MAIOR POETA DO BRASIL!
(Extraído do livro “Canto da Esperança”- Editora Nova Fronteira-1990)


*
“Em  1868, em fevereiro, Castro Alves e Eugênia Câmara viajam para o Rio de Janeiro. O poeta traz uma carta do senador Fernandes da a  Cunha , apresentando-o a José de Alencar que o recomenda a Machado de Assis, ponto de partida de sua conquista do Rio de Janeiro e de São Paulo. Castro Alves lê o “Gonzaga” em sessão pública do Diário do Rio de Janeiro perante jornalistas, escritores e políticos. Logo depois faz a leitura do mesmo para José de Alencar e Machado de Assis, separadamente. Sua capacidade de comunicação muito o ajuda nessa entrada triunfal no Rio e em São Paulo.
Declama o poema “Pesadelo da Humaitá” da sacada do Diário do Rio de Janeiro, perante uma multidão que exulta com o feito militar nas trincheiras brasileiro-paraguaias. Em São Paulo matricula-se no 3º ano jurídico, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, tradicional reduto da boêmia e da intelectualidade. Mas vai dedicar-se preferentemente a aparições no teatro, declamando seus poemas nas atividades abolicionistas e nas festividades cívicas e culturais. É quando recita “O livro e a América”, “Ode ao Dois de Julho” e “Pedro Ivo”. As reuniões tinham significado político, abolicionista e republicano. Castro Alves, em 1868, antecipa-se ao Manifesto Republicano, desprezando radicalmente o sistema monárquico, pseudo-parlamentar.
Em agosto participa de uma homenagem a José Bonifácio, o Moço, que deixara o poder com o Partido Liberal, pronunciando um belo discurso que seria relembrado por Joaquim Nabuco.
Em novembro é vítima de um acidente numa caçada, na região do Brás. A espingarda disparou e atingiu seu pé esquerdo.
Em 1869, no mês de maio, volta ao Rio de Janeiro e desembarca no Cais Faroux, de onde é levado de maca para a casa de seu amigo Luís Cornélio,na Rua André Cavalcanti. Ali é assistido pelo amigo e seus familiares.
Em outubro encontra-se com Eugênia Câmara numa noite de espetáculo em que ela trabalha. Esse encontro dos amantes, ele próprio narra em um dos seus poemas mais dramáticos. ´É a separação definitiva, pois Castro Alves resiste aos apelos amorosos de Eugênia, tomada de culpa pelos desastres que seu amor causara ao jovem poeta. Segundo ele próprio, e ela também, em versos, a reaproximação foi mais carregada de sofrimento que de alegria e prazer.
Em novembro embarca para Salvador,onde o aguarda a família (até o momento, nenhum biógrafo se preocupou em conhecer os motivos da ausência de familiares junto ao leito de enfermo de Castro Alves, durante tantos meses). Voltou sozinho, “encostado á murada do navio”, fitando “as espumas flutuantes” que iam ficando atrás.
Em 1870, no mês de janeiro, segue para Curralinho onde, na Fazenda Santa Isabel, termina “A Cachoeira de Paulo Afonso”, o seu poema mais completo e realizado, segundo críticos de credibilidade. Também nesse ano é lançado o seu único livro editado em vida: “Espumas Flutuantes”.
Em 1871 conhece Agnese Trinci Murri, professora de piano de sua irmã Adelaide, bonita italiana, separada do marido, e por quem se apaixona, sendo correspondido platonicamente. Agnese resiste ao poeta, invocando o fato de ainda ser legalmente casada.
Para o poeta Agnese é de “gesso e bronze”. Resistindo por virtude e não por falta de amor, Agnese recusa a Castro Alves o que poderia ter sido a sua última ilusão de felicidade amorosa. O poema “A virgem dos últimos amores” seria talvez a sátira amargurada do guerreiro, que não terá nem mesmo a sua última noite de amor, antes de morrer.
Em 24 de julho, agrava-se o estado de saúde de Castro Alves na noite de São Jõao e é recolhido ao leito. Pede aos familiares para o colocarem na sala, onde quer morrer olhando  “a superfície azul do mar imenso”.
Em julho, o poeta, que tanto e sem sucesso desejou Agnese, também nega-lhe o último pedido: vê-lo ao leito, tão destroçado pela doença, porém lúcido e sereno, a encarar face a face a “negra feiticeira”, que chegava. Nâo desejaque a amada guarde dele a imagem que se extingue. Não quer  fazer o confronto de duas vidas que se separam para sempre, sem nunca se terem encontrado. A lua invade a sala para despedir-se dele. Projetando-se nas paredes do vetusto solar da Ladeira do Sodré, entram pela sala os espectros românticos de Byron, Musset, Espronceda e Álvares de Azevedo. É quando o rosto lívido de Castro Alves se volta imperceptivelmente para os companheiros devêm buscá-lo.
Em seis de julho morre às 15.30 numa tarde de sol,  olhando o mar até os seus últimos momentos”.



                                                                       
Eis a narração do historiador João José Reis, baiano, nascido em Salvador, em 1952.

Nenhum comentário:

Postar um comentário