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By Ferramentas Blog

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

111- EDUAARDO CÉSAR RODRIGUES MORAIS (EDUARDO MORAIS)

111- EDUARDO CÉSAR RODRIGUES MORAIS
(EDUARDO MORAIS)


SALA DOS LENTES
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA


*

Nasceu em  1884, em Salvador, sendo seus pais Miguel Rodrigues de Morais e Clara César de Morais.
Diplomou-se em Medicina, em dezembro de 1903, pela Faculdade de Medicina da Bahia.
Partiu para a Europa, a fim de aperfeiçoar seus estudos, durante quatro ou cinco anos, oportunidade em que freqüentou as Universidades de Hildelberg, Viena e Paris.
Em 1907, regressou ao Brasil, sendo nomeado Professor substituto de Clínica Oftalmológica, da Faculdade Nacional de Medicina.
Um ano depois, voltou à Europa, em nova viagem de estudos.
Em 1911, foi nomeado Professor ordinário de Clínica Oftalmo-laringo-rino-otologia da Faculdade de Medicina da Bahia, assim permanecendo até 1915, No ano imediato, passou a catedrático.
Com o desdobramento da cátedra em duas disciplinas (Oftalmologia e Otorrinolaringologia), optou por Otorrinolaringologia, e assim permaneceu até 1943.
Cirurgião competente, praticou, pela primeira vez no Brasil, a laringofissura e a labirintectomia,  e foi o primeiro otorrinolaringologista a realizar a laringectomia total ( 1),
Relata Edmundo Leal de Freitas, obra citada: “ Eduardo Morais era um inovador e observador constante dos progressos da Medicina. Disso deu prova em Viena, quando o célebre Haslinger versava aos seus alunos sobre o “diretoscópio” – um novo aparelho destinado à endoscopopia per-oral, lançado então há poucos meses, dizendo que era um recurso instrumental diagnóstico ainda desconhecido. Eduardo de Morais pede a palavra e diz já tê-lo utilizado várias vezes. A seguir, a convite do professor vienense, introduz o “diretoscópio” em um paciente, com a maior facilidade e o deixa fixado no ponto exato, após o que declara já o estar usando, desde o seu surgimento, na Bahia” (Ibidem).
Vice-Diretor da Faculdade, no período de 1933 a 1943, substituiu o titular várias vezes, revelando grande tino administrativo.
Sá de Oliveira definiu Carlos Morais como “clínico de excepcional conceito e rara habilidade, professor de grandes méritos e orador empolgante” (3).
Ao lado de João Marinho (Rio de Janeiro) e de Lindemberg (São Paulo), Carlos Morais lançou as bases da otorrinolaringologia brasileira, da qual surgiram centenas de especialistas, espalhados pelo país.
Membro da Academia Nacional de Medicina e de inúmeras instituições  científicas nacionais e estrangeiras, mereceu de Mangabeira Albernaz o seguinte elogio: “Um homem em que não sei o que mais admirar: se o valor científico, se a habilidade cirúrgica, se a capacidade didática, se o amor ao trabalho, se a coragem, o altruísmo, a abnegação. Se nada disso ele possuísse ou se alguém quisesse negar o que acabei de dizer, ainda ficava intacto o seu maior florão de gloria: sua escola, a escola oto-rino-laringológica da Bahia, a Escola de Eduardo Morais” (2)
Faleceu em sua cidade natal, no ano de 1943.


FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

1.     Freitas, Edmundo Leal de – Discurso de Posse. Anais da Academia de Medicina da Bahia. Volume VIII, setembro de 1992.
2.     Lacaz, Carlos da Silva –Vultos da Medicina Brasileira. São Paulo, 1966
3.     Sá Oliveira, Eduardo – Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente a 1942. Salvador, 1992.




APÊNDICE I
(Extraído de Sá Menezes, Jayme de – Eduardo Rrigues de Morais . Sinópse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Amp II.No II. Outubro. Salvador, 1878)

VISTA EXTERNA DO ANFITEATRO ALFREDO BRITO
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA


*
“Viu a luz, aquele que viria a ser insigne médico, já transposta a segunda metade do século XIX, que por sem dúvida constitui  um marco da maior significação no volver da medicina e do pensamento médico, tantas as conquistas realizadas, nesse período histórico, nos vastos e variados campos da prática e do saber médico, nos domínios da clínica, da cirurgia, da psiquiatria, da neurologia, da ginecologia, da obstetrícia, da higiene, da medicina-legal, da oftalmologia, da otologia, da laringologia e da rinologia.
Cronologicamente, forma ganhando corpo, impondo-se como especialidades médicas, a oftalmologia, a otologia, a laringologia e a rinologia.
Por muito tempo, a oftalmologia foi sendo exercida juntamente com as outras especialidades afins, supra citadas, e então os cirurgiões, com igual desenvoltura, exerciam a oftalmo-oto-laringo-rinologia, fiados nas interligações anatômicas, topográficas, Fisiológicas e patológicas que até certo ponto justificavam tão largo cenário de ação comum.. E até clínicos, da nomeada de um Trousseau, chegaram a exercitar este ou aquele ramo da então polivalente especialidade, de tão largo espectro, envolvendo territórios contíguos mas, por sem dúvida, nem sempre assim tão um do outro dependente.
Eduardo de Moraes, que se diplomou médico no limiar do século XX, isto é, em 1903, viajando à Europa – ainda sob a predominância, aliás, justificável e justificada, da cultura francesa que, por assim dizer, comandava o pensamento científico universal – no Velho Mundo dedicou-se a uma especialidade até então não praticada na Bahia, a oftalmo-oto-rino-laringoscopia, como passaram a ser englobados esses vários departamentos da clínica e da patologia. Homem inteligente e estudioso, Eduardo de Morais logo passou a dominar essas especialidades aglutinadas, e chega à Bahia sob o prestígio de um nome aureolado pelos profundos estudos que realizara nas clínicas e nos hospitais então mais respeitáveis da Europa.
Tocar-lhe-ia, assim, por inteira justiça, ao regressar à terra natal, o convite para ser o fundador, na Bahia, da cadeira de Oftalmologia e Otorrinolaringologia, a cujo ensino desde logo emprestou o brilho da sua palavra e a profundidade de seus conhecimentos, além adquiridos.
Desdobrada, posteriormente, a cadeira, em Clínica Oftalmológica e Clínica Otorrinolaringológica, por aquela passaram, no exercício da cátedra, entre outros, Clodoaldo de Andrade e Cesáario de Andrade, hoje exercitada pelo egrégio professor Heitor Marback, já decano da Congregação Docente e Vice-Diretor da Faculdade.”


APÊNDICE II
DEPOIMENTO DE JAYME DE SÁ MENEZES (II)
(Extraído de Sá Menezes, Jayme de – Eduardo Rrigues de Morais . Sinópse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Amp II.No II. Outubro. Salvador, 1878)

ENTRADA PRINCIPAL DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
(ATUAL FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA)
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“Ao deixar o exercício da Oftalmologia, dedicou-se Eduardo de Morais, inteiramente, à Clínica Otorrinolaringológica, que, aliás, desde o século XVIII tomara grande impulso com Antônio Maria Valsava, aquele a quem poderíamos chamar, nos tempos modernos, o pai da otorrinolaringologia, ou mais particularmente, da otologia, por  isso que foi o profundo estudioso da anatomia e da fisiologia da orelha (que subdividiu em externa, média e interna), e que por igual estudou, detidamente, as funções das cadeiras dos ossículos, do canal semicircular e da membrana do tímpano.
Discípulo de Malpi e mestre de Morgagni, Valsava é assim o patriarca da especialidade em que Eduardo de Morais se fez grande expoente, graças aos continuadores de Valsava nos dois séculos seguintes.
É oportuno recordar, neste ensejo, outros nomes basilares da especialidade, a começar por Manuel Garcia, simples professor de canto que, ao usar de seus improvisados espelhos para melhor observar as cordas vocais, foi o precursor de Turck, inventor do laringoscópio; Physick, por sua vez, criaria o amigdalótomo, por tanto tempo empregado;Eustáquio, ligou o seu nome à trompa que tem o seu apelido; Méniére, à síndrome clínica que lhe recorda o nome; Kramer, às perturbações auditivas; Petit, às mastodectomias;  Cooper, à paracentese do tímpano; enfim, um sem número de cirurgiões e anatomistas que edificaram a especialidade.
Tocado dos estímulos dos velhos tratados, e dos mestres consagrados com que convivera e praticara na Europa do princípio do século, Eduardo de Morais, ao chegar de retorno à Bahia, no viço da mocidade e sob contagiante entusiasmo, logo atrai os prosélitos, multiplica os admiradores de sua forte personalidade, de sua elegância moral e física, cujo porte apolíneo emprestava à sua figura, esbelta e insinuante, o poder da mais comunicativa simpatia.
Esses atributos, que lhe esmaltavam o perfil admirável e lhe emolduravam a tela magnífica em que se destacavam em tons múltiplos e diversos, os coloridos variegados dos seus talentos, asseguram-lhe os aplausos unânimes dos discípulos.
0estava, talvez, sem o saber, e muito menos sem esse propósito, o fundar uma escola médica – a Escola Otorrinolaringológica Baiana, de que foi ele, indiscutivelmente, o chefe consagrado. Consagrado, querido e admirado!
Apesar da cultura e do brilho de  tantos docentes da sua amada Faculdade, da notoriedade que vieram a desfrutar, poucos os que, como Eudardo de Morais, conseguiram fazer escola.
Da sua, projetar-se-iam, Brasil afora, nomes como o de seu próprio filho, o eminente professor Carlos de Morais, sua repetição perfeita, como os de Paulo Mangabeira Albernaz, Ermiro de Lima, Aloysio Novis, Teófilo, Pedro e Edgard de Cerqueira Falcão, Sílvio de Menezes Berenguer. Waldemar Lage, Carlos Fera, Aderbal Almeida,  Astor Baleeeiro e  Eduardo de Morais Baleeiro, que já se anuncia capaz de continuar, na especialidade, a respeitável tradição do preclaro avô.
Homem afirmativo, de grande independência moral, Eduardo de Morais juntava à superioridade a altivez; à inteligência, a modéstia, à fina educação, o cavalheirismo mais natural e autêntico, perfeito gentleman que era. E incorporava, a essas nobres qualidades, a de mestre admirável, cujas aulas, entrecortadas de comparações pertinentes, proferia com brilho invulgar, palavra fluente e ágil, mímica complementar, olhar fusilante, a irradiar conhecimentos, a conquistar afeições, irrequieto e vibrante, tanta vez a andar de um lado para o outro da sala frente à carteira do professor, inteiramente empolgado pelo assunto sobre o qual deletreava.
Era uma delícia ouvi-lo, seguro, cortez, fulgurante, a ministrar suas lições, não raro ilustradas de episódios passados na clínica civil, como aquele que, na sua habitual e impecável elegância, se referiu ao descrever um atendimento clínico no palácio de Buckingham, na Inglaterra, a mais requintada mansão da nobreza européia.
Cirurgião exímio, de técnica e tática perfeitas, professor dos maiores do seu tempo, clínico de extrema dedicação, não sabia distinguir ricos e pobres, poderosos e humildes.
Era sempre o mesmo homem. Era sempre o mesmo médico, capaz, humano, distinto, educado, quer na clínica dos aristocratas como ele (que  o foi no melhor dos sentidos), quer no atendimento dos indigentes que nele sempre encontraram o socorro da ciência envolto nas efusões da bondade. Era, por tudo isso, um grande médico, talvez ainda maior de que o notável professor que foi, de lições imorredouras, fundador de escola, partícipe de congressos internacionais da especialidade em que se tornou, no Brasil, um dos seus pontífices.
















APÊNDICE III
DEPOIMENTO DE JAYME DE SÁ MENEZES (III)
(Extraído de Sá Menezes, Jayme de – Eduardo Rrigues de Morais . Sinópse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Amp II.No II. Outubro. Salvador, 1878)
(A FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA, NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX – foto disponível em http://karlaiene.blogspot.com/2009/04/documentacao-fotografica-na-segunda.html

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“No Cairo ou em Paris, em Copenhague ou em Buenos Ayres, a sua voz foi escutada com acatamento e respeito, elevando   no estrangeiro o renome da otorrinolaringologia nacional, sendo ele um dos vultos sul americanos  mais eminentes na  especialidade.
Sua encantadora  modéstia jamais lhe permitiu a vaidade dos néscios. Bem nascido, aristocrata de origem e de espírito, era em tudo um fidalgo. Incapaz de humilhar ou ferir, a sua grandeza moral era daquelas que de logo envolvem os circunstantes, despertando-lhes a admiração e atraindo-os para a órbita em que giravam as suas raras virtudes, e até os tímidos e esquivos se sentiam presos às sedutoras malhas da sua compreensão, da sua delicadeza e do seu afeto.
A mocidade nele confiava. Nele sempre encontrou a sinceridade e estímulo. Com uma sorriso de encantadora comunicação, com o brilho do olhar, era impecável nas maneiras, nobre nas atitudes. A juventude admirava-o, queria-o como um amigo, um guia, um condutor, cujo caráter impoluto e firmeza de procedimento inspiravam estima e admiração.
Com o cirurgião exímio e o conspícuo professor convivia o patriota. Sem jamais andar a braços com a política, era um cidadão valoroso, capaz de inflamar-se pelas grandes causas.
Assim é que o vimos, vibrante, desassombrado, intrépido, empunhar o lábaro da “Legião dos Médicos para a Vitória”, quando o Brasil ferido pelos déspotas do “Eixo”, não vacilou, não titubeou um só instante. Foi à praça
Pública, percorreu as ruas desta cidade, a comandar, na linha de frente, os colegas, a mocidade e o povo que se rebelavam contra a tirania, que lutavam pela liberdade, pelos direitos humanos, que, do outro lado do Atlântico, estavam ameaçados.
É que a altivez e o civismo completavam aquela personalidade de escol, aquele espírito indômito que se não deixava vencer pelo despotismo, que vibrava nos mais exemplares rasgos patrióticos, próprios dos homens que nasceram para viver livres e independentes, presos tão só às garras da dignidade, do direito e da justiça.
Numa síntese temerária, como esta, comprometedora da revelação cabal do grande mestre, eis o desbotado retrato de Eduardo Rodrigues de Morais, cujas qualidades e talentos compuseram um exemplar humano de rara grandeza, desses que, ao desaparecerem, empobrecem a comunidade, entristecem os amigos, abalam os admiradores, e deixam um vazio dificilmente preenchível”.



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