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By Ferramentas Blog

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

109- EDGARD DO REGO SANTOS

109- EDGARD DO REGO SANTOS

 

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Nasceu em 8 de Janeiro de 1894, em Salvador, sendo seus pais João Pedro Santos e Amélia Rego Santos.
Concluídos os estudos preparatórios, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual colou o grau de doutor em Medicina, em 1917.
Na cerimônia de formatura, Edgard Santos foi o orador oficial dos doutorandos.
Após a conclusão do curso médico, foi para São Paulo, onde especializou-se em Cirurgia.
Ao retornar a Salvador, em 1922, assumiu a direção do Pronto Socorro. e ingressou na carreira docente. Regeu, interinamente, por duas vezes, a cátedra de Patologia Cirúrgica (em 1925 e em 1926).
Em 1927, foi aprovado no concurso, para provimento da cátedra de Patologia Cirúrgica. Em 1933, foi transferido para Clínica Cirúrgica.
Após o concurso, seguiu para a Europa, em viagem de estudos, ocasião em que freqüentou os melhores serviços de cirurgia de Paris, Lion e Berlim.
De regresso à Bahia, promoveu notável renovação do Serviço do Pronto Socorro e construiu o Hospital Getúlio Vargas, no Bairro do Canela.
No Hospital Espanhol, realizou trabalho semelhante, de construção e renovação.
Criada a Universidade da Bahia, em 1946, foi eleito Reitor.
A partir de então, iniciou uma administração sem paralelo na história da universidade, obra verdadeiramente ciclópica, motivo pelo qual foi reconduzido, por vários mandatos sucessivos.
Doutor Honoris Causa das Universidades de Coimbra e Lisboa, recebeu inúmeras honrarias, por parte de diversas instituições científicas e culturas, do Brasil e do exterior.
Em 1954, foi nomeado Ministro da Educação, no Governo do Presidente Vargas.
Em 1961, por ocasião de organizar-se a lista para a indicação dos candidatos a Reitor, “havia assumido a Presidência da República o senhor Jânio Quadros. Temperamental, instável nas suas posições e atitudes, foi modelo de insinceridade no exercício de funções públicas. Mais uma vez foi a lista constituída com Edgard eleito no primeiro escrutínio, com a quase unanimidade dos votos. Encaminha a indicação do Conselho Universitário à Presidência da República, não se fez esperar o responsável pela nomeação. Escolheu o segundo nome da lista.
Aos 67 anos, passou Edgard pela maior decepção da sua vida pública. O mandato que lhe foi negado terminaria quando ele completasse setenta anos. Seria o último, porque logo teria de aposentar-se por implemento de idade. E tinha  se preparado para fechar com chave de ouro a sua gestão.” (1).
O reitor inigualável “recolheu-se à sua própria casa, onde passava praticamente todas as horas do dia, lendo, recebendo amigos, falando ao telefone e ocupado com a extensa correspondência” (Ibidem).
Foi nomeado para o Conselho Federal de Educação, do qual foi eleito, por unanimidade, Presidente.
Edgard Santos faleceu em 3 de junho de 1962.




FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.     Figueira Santos, Roberto – Vidas paralelas (1894-1962). 2ª Edição. Salvador, 2008.
2.     Loureiro de Souza, Antônio – Baianos Ilustres. Salvador, 1973.
3.     Machado Boaventura, Edivaldo – Trajetória de uma universidade. Salvador, 1999.


ANEXO I
DEPOIMENTO DE CÍCERO ADOLPHO DA SILVA
Extraído de Silva, Cícero Adolpho da – Edgard Santos. Sinópse Informativa.
Universidade Federal da Bahia, Ano II, No II. Outubro. Salvador, 1978.


CAMPUS DO CANELA, UFBa


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“Foi em 1935. O então Diretor da Faculdade de Medicina, a velha escola do Terreiro de Jesus, havia deixado o cargo, por doença irreparável. Assumia a direção da velha Faculdade, por escolha de seus pares, um professor de clínica cirúrgica, ainda jovem, havia pouco mais de um lustro que havia assumido os deveres da cátedra. Chegava ao posto supremo da administração escolar cheio de planos de  uma invulgar determinação, que os anos por vir haveriam de confirmar. Era Edgard Santos o novo diretor.
Achava-se eu então, bisonho estudante, pelo meu segundo ano de medicina. O ambiente da Escola, àquela época refletia ainda o mal estar causado, havia poucos anos, pela luta política originada na revolução de 30 e que se manifestara, havia poucos anos, pela reação dos inconformados, prontamente reprimidos dentro da própria Faculdade, pelo Delegado da revolução vitoriosa, que ainda não lograra plena aceitação na comunidade. Pairava no espaço, era forçoso reconhecer-se, um vago sentimento de humilhação que alguns, com espírito magnânimo, se esforçava por dissimular e por fazer desaparecer.
Tratava-se de recompor o meio escolar, ainda conturbado, no qual se havia estabelecido uma clivagem, uma dicotomia, assumindo professores e alunos, em maior ou menor número, posições às vezes marcadas por um radicalismo. Refletindo, por outro lado, o que ia pelo mundo os estudantes já assumiam posições contraditórias, preludindo atitudes que viriam desembocar na inflexibilidade dos sectarismos que, no plano nacional,, terminariam na ditadura de 1937 e, a nível mundial, dois anos mais tarde, na catástrofe de que fomos todos testemunhas e de cujas conseqüências não nos pudemos libertar até hoje.
Em termos de ensino, vivia a Faculdade um clima de acomodação, embalados os professores na contemplação dos vultos  do passado, anestesiados os alunos pelo discurso bombástico, pela frase altissonante, pela retórica acadêmica, que faziam o prestígio social da cátedra. Era o tempo em que provisão de cátedra tornava-se acontecimento social  de maior relevância na vetusta cidade. Para o rebuscadíssimo salão nobre afluía a fina flor da sociedade baiana porque ali também se ia encontrar a flor da intelectualidade local.
Sem dúvida havia professores que procuravam,, já então, incutir um sentido mais prático ao ensino. Também havia os que, de vez em quando, erguiam a voz para profligar a situação, o que em verdade nada mais produzia do que uma breve celeuma entre os mestres, seja nas memórias históricas, seja em discurso de abertura de cursos, voltando tudo logo após, ao estado de amena tranqüilidade tanto do sabor quanto da necessidade da maioria da congregação. Nesse clima, a escola era sem dúvida, risonha, embora não se pudesse considerá-la tão franca.
Os programas das cátedras – naquele tempo ainda não se falava em currículo – obedeciam, quase literalmente, aos índices dos últimos compêndios importados da França, já que, à época, poucos deram os professores que chegavam a tomar conhecimento do movimento científico anglo-saxônico. Tempo houve é verdade, lá pelos meados dos anos vinte, que a Fundação Rockfeller andou arrebatando alguns professores das cadeiras básicas, sobretudo, para períodos de estudos nos Estados Unidos. Mas, esse movimento não deixou conseqüências.
Quanto aos estudantes, assistiam pachorrentamente, e aceitavam, mais ou menos indiferentemente aquela situação. Não havia questionamento e muito menos a contestação de nosso dias.  Esta atitude era explicável, ao menos em parte, pela própria condição social do estudante, em sua imensa maioria oriunda das classes sociais, urbana ou rural, economicamente privilegiadas.
Esta era a moldura na qual Edgar Santos havia de inserir o quadro de sua administração. Homem de aparência serena, sendo impossível nele surpreender qualquer gesto desprimoroso,  era, como acima disse, dono de uma determinação implacável e de um poder de decisão impossível de ser suspeitado à primeira vista, sob sua maneira tranqüila, mas, por outro lado, avesso aos malabarismos retóricos, às pantomimas da linguagem. Era homem de ação, de sentido prático irreprimível. E foi com esse sentido prático e com aquele poder de decisão que entregou-se, em verdadeiro regime de tempo integral, à direção de sua escola.
De pronto, terá entendido Edgard Santos, que a Faculdade necessitava de renovação e mudança. E foi precisamente isto o que procurou fazer. Na dura empresa, paladino de uma política mudancista, despertou, como não podia deixar de ser, ferrenhos opositores na congregação. Mas, por outro lado, teve a satisfação de encontrar o apreço e o apoio de devotados colegas, sempre prontos a emprestar-lhes o aplauso irrestrito, de que carecia e que indiscutivelmente merecia. Estes se contavam, sem dúvida, pela maioria em sua congregação, sendo disto prova irrefutável as sucessivas reconduções ao cargo que o mantiveram à frente dos destinos da Faculdade até assumir o cargo de Reitor da Universidade que acabara de criar.
Estrategicamente, Edgard Santos iniciou a renovação de sua escola pelas instalações. Seu programa, neste aspecto culminaria com a construção e instalação do Hospital das Clínicas, antiga aspiração de mestres e discípulos, cuja inauguração, em 1949, passou a constituir um marco de referência de capital importância na modernização do ensino médico no Nordeste e no Norte do país. Para que se tenha a media da capacidade empreendedora de Edgard Santos, basta que se diga que, mais de quarto de século decorrido, as Universidades da região ainda não lograram concluir, ou sequer iniciar, a construção de hospitais congêneres.
Foi na esteira das realizações materiais, que Edgard santos, perspicaz conhecedor da natureza dos homens, encetou o que viria a ser, sem dúvida, a parte menos louvada, porém a mais importante, de sua ação renovadora à frente da Faculdade de Medicina, continuada, sem interrupção, quando já Reitor da Universidade. Entendeu ele, com grande dose de lucidez, que um programa visando à qualificação do pessoal docente seria melhor compreendido e aceito se embasado em serviços e instalações adrede preparadas para a atuação renovadora daqueles a quem enviara, fora do Estado, a princípio para os centros adiantados do sul do país, mais tarde, para o estrangeiro, no intuído de melhor capacitação. Foi o que fez. O autor destas linhas foi um dos primeiros beneficiários deste programa que culminou nos anos cinqüenta, com a distribuição de assinalável número de bolsas de estudo, mercê de convivência com fundações e outras organizações estrangeiras. Programa de resultados multiplicadores, seus efeitos se projetam até nossos dias, quer na nossa Faculdade, quer em outras unidades da Universidade.
Mas foi nesta última que Edgard Santos teve o seu grande momento. Criando a Universidade da Bahia, firmou de modo irredutível sua condição de educador – “primus inter pares” – e situou-se definitivamente como um humanista dos mais conspícuos de nosso tempo...”


APÊNDICE II
EDGARD SANTOS, “O REITOR MAGNÍFICO”


PROF. EDGARD DO REGO SENTOS, O "REITOR MAGNÍFICO"

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“ O ensino superior no Brasil sofreu de um pecado original, de conseqüências que ainda não se esgotaram. São bem conhecidas as transformações que o Brasil viveu, em virtude da transmigração da família real portuguesa, da Metrópole para a mais importante colônia. O Príncipe Regente, d. João, tendo aportado na Bahia, no começo de 1808,promoveu a criação de uma Academia Militar Médico-cirúrgica, precursora da atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Foi a primeira instituição de ensino superior em todo o País. Ao fim de poucos dias de permanência em Salvador, o Príncipe se deslocou para o Rio de Janeiro, para onde havia sido transferida a Capital da Colônia havia pouco mais de quarenta anos, em 1763. Reunido ao resto da família e à corte, d. João fez criar, antes do fim de 1808,outra academia, que seria a precursora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em moldes semelhantes à instalada, cerca de oito meses antes, na Bahia. Poucos anos depois, criavam-se os cursos de Direito , em Pernambuco e em São Paulo. Definia-se, desta forma, o modelo que dominou o ensino superior no País durante mais de 120 anos, e ainda hoje repercute. As origens das nossas universidades deixaram marca permanente no sentido pragmático e imediatista de que se reveste a formação profissional, limitada, em geral, à transmissão de conhecimentos e habilidades inerentes a determinada profissão, e despojada dos benefícios que o aluno encontra na maioria das universidades dos países avançados, onde são mais presentes a investigação científica e os estudos clássicos. Desde o princípio, no nosso ensino superior, os setores básicos do conhecimento (Matemática, Física, Química, Ciências Humanas, Letras) aparecem com propósito meramente ancilar, como preparatórios para o objetivo institucional, de formar profissionais da Medicina, do Direito, da Engenharia e demais atividades liberais que exigem educação superior. Somente na década de 1930, com imenso atraso, se iniciou, aliado ao nosso ensino superior, o cultivo das ciências e da letras pela importância intrínseca que têm para a vida de um povo. Durante o Império, houve tentativas de criação de universidades, logo rechaçadas no Parlamento pelo prestígio das grandes escolas profissionais.
Esta síntese da evolução do ensino superior no Brasil serve como preâmbulo à exata percepção do papel desempenhado por Edgard Santos na criação da Universidade Federal da Bahia. Era ele, em 1945, há quase dez anos, o diretor da principal unidade de ensino superior em nossa terra. Foi muito variada a reação das várias escolas superiores existentes na Bahia, à criação da Universidade. De modo geral, as escolas menos dotadas entusiasmaram-se pela idéia. Viam nela o caminho para a ascensão, para a participação em projeto maior, na associação com unidades mais prestigiosas. Por via de conseqüência, esperavam a melhoria do status dos professores e recursos mais abundantes para o desempenho das suas responsabilidades. Haviam, contudo,segmentos de faculdades de maior tradição, como as de Medicina, de Direito e a Politécnica, que mostravam reservas ao projeto. As mesmas reservas que apareceram em debates no Parlamento do tempo do Império, quando a influência das poucas faculdades de renome do País impediu a tentativa de criação de universidades. Esta resistência, muito forte desde o começo, só lentamente foi diminuindo, e ainda não desapareceu de todo, por incrível que pareça.
Não era esta a visão de Edgard Santos, em a do ministro Souza Campos. Tinham eles bem presente a idéia de que a Universidade devia ser muito mais que o conjunto de escolas que a formariam, inicialmente. Era necessário projetá-la mais na sua dimensão cultural, o que nas condições baianas, dentro de pouco tempo e sob a liderança de Edgard, veio a traduzir-se predominantemente no aperfeiçoamento do talento artístico da nossa gente.
O trabalho inicial foi muito árduo e, essencialmente, administrativo. Escolas de larga tradição de isolamento, habituadas a decidir internamente todos os problemas, passaram a conviver, a ter de adaptar-se umas às outras, a decidir conjuntamente, a adotar normas comuns de gestão orçamentária, a resolver solidariamente problemas disciplinares e assuntos relativos ao pessoal, à aquisição de equipamentos de maior porte, aos processos de admissão de alunos e de formação e seleção de professores, à ênfase na pesquisa e na extensão. Mais tarde, em outra etapa, cuidou-se da maior integração dos trabalhos acadêmicos entre as várias unidades universitárias...”
(Extraido de Santos, Roberto Figueira –Vidas Paralelas (1893-1962). 2ª
Edição. Salvador,2008).



APÊNDICE III
A UFBA NO SEU CINQUENTENÁRIO
ROBERTO SANTOS
( EXTRAÍDO DE: MACHADO BOAVENTURA, EDIVALDO –TRAJETÓRIA DE UMA UNIVERSIDADE. SALVADOR, 1999)



“Na Bahia, em 1946, a exemplo do que ocorrera em São Paulo e no Distrito Federal, cerca de 10 anos antes, aglutinaram-se escolas superiores existentes e outras que foram sendo criadas, em uma só instituição – a Universidade da Bahia – com objetivos mais amplos que a soma dos propósitos das entidades que lhe davam origem. Além da formação profissional, as universidades recém-fundadas assumiram responsabilidades expressas com a pesquisa técno-cientifica e colocavam as atividades de extensão entre os seus objetivos primordiais. Constituindo-se em entidades maiores e mais prestigiosas que as antigas faculdades isoladas, em várias unidades da Federação as universidades tiveram significativa expansão e puderam atender melhor à população estudantil que batia às suas portas em números crescentes.
Na Universidade da Bahia, as atividades de extensão cultural floresceram com excepcional brilho, graças à inspirada liderança de Edgard Santos, que soube captar a vocação inata á gente baiana para o trabalho criativo nas áreas da música, do teatro, da dança e das artes plásticas. Ainda sob a liderança de Edgard Santos, o ensino, a pesquisa e a prestação direta deuç serviços na área de saúde foram radicalmente transformados pela construção e instalação do Hospital Universitário”.

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APÊNDICE V
OS AZULEJOS DA REITORIA
JOSÉ VALADARES, 2008
(Disponível em http://www.amab.com.br/site/artigos.php?fazer=de t&cod=173)



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“O entusiasmo, o bom gosto e a dedicação de Edgar Santos não conhecia limites.
Concluído e instalado o Hospital das Clínicas,  resolveu construir o prédio da Reitoria da Universidade.
Para realizar seu intento, aproveitou o antigo Ambulatório Augusto Viana, localizado nas vizinhanças do hospital.
Ali existia, até 1933, o Solar do Bom Gosto, palacete ornamentado com azulejos portugueses dos séculos XVIII e XIX.
Demolido o solar, Edgard reaproveitou os azulejos, a fim de decorar o belo edifício.
Vejamos o que escreveu José Valadares, sobre tais azulejos:
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“Os azulejos que presentemente ornam o palácio da Reitoria da Universidade da Bahia são do tipo que as olarias portuguesas fabricaram desde o terceiro quartel do século XVIII até cerca de 1830. O Hospital das Clínicas, ao lado, levanta-se sobre o mesmo chão do solar a que pertenceram originalmente, demolido em 1933. Da história desse belíssimo solar, conhecido por Bom Gosto, o que se sabe é muito pouco. A julgar pelos seus elementos arquitetônicos – fachada, janelas, molduras, caixilhos, arcadas, balaustres, colunas jônicas , etc., todos de acentuado e delicado gosto neoclássico, como nosso palácio da Associação Comercial – trata-se de edificação do primeiro quartel do século XIX. Consta que foi construído pelo comerciante português Pedro Barbosa de Madureira, falecido a 21 de julho de 1868, conforme se vê na lápide do jazigo de família na igreja da Piedade. Passou a ser propriedade de Francisco Pereira de Aguiar, futuro marechal de campo, com a morte do filho que este houve de sua primeira mulher, que era filha de Pedro Barbosa de Madureira e que falecera antes.  Francisco Pereira de Aguiar, filho legítimo de Domingos Pereira de Aguiar e de D. Maria Jacinta de Aguiar,nascido na capital da Bahia a 26 de julho de 1820 e falecido em 1904, fez uma brilhante carreira como engenheiro militar, prestando relevantes serviços tanto ao país como ao seu estado natal . De seu casamento em segundas núpcias, deixou numerosa descendência. Diz um cronista de nossa terra e de nossa gente: “Ainda hoje a alta sociedade da Bahia ostenta o nome Aguiar, associado aos Macedo, Costa Pinto, Castro Rebelo, Cerqueira Lima, Liberato de Matos... e outros colaterais.”
Para se fazer idéia da riqueza que era o solar Bom Gôsto, que também ficou muito conhecido como solar Aguiar, além das poucas fotografias publicadas por Guerra Duval, temos de nos valer das descrições deixadas por quem o frequentou. Do mesmo cronista que assinalou a importância da família na sociedade baiana, temos as seguintes evocações:
 “O Bom Gosto era um solar, um paço, uma vasta casa bem portuguesa, bem nacional. Todo um vasto único andar, suspenso do solo, a que se subia por escadas nobres. Nos baixos, nos porões, cômodos para dependentes, escravos, subalternos. Aí estavam as seges ou carros para as visitas solenes e as solenidades da vida. As cadeirinhas, as cadeiras de arruar, para as damas e senhoras que negros de librê conduziam aos ombros. Incluída, no corpo do edifício, a capela, de talha dourada e azulejos celestes, espaçosa, tanto que o Senhor dos Passos, grande, dava para andor nas procissões públicas, quando invocado a peregrinar.   “Alto pé direito, largos corredores, áreas internas ajardinadas ou pátios centrais, como o clima pedia, pois os quartos de habitações davam para fora e para aí, intimidade, comunicante pelos largos espaços e torno, cercado de balaustradas. Milhares de preciosos azulejos antigos, que vieram do Reino, contavam histórias bíblicas e heróicas, encimados por cornijas douradas, sobre as quais corriam tetos apainelados.  Não se sabendo a data de construção do solar, nem outro documento a respeito esclarecedor, torna-se impossível estabelecer com precisão quando foram colocados os painéis de azulejos. Sua variedade – no esquema cromático, no brilho dos esmaltes, no tom das cores, no desenho dos enquadramentos e na composição das cenas – daria margem a que se presumisse terem sido assentados em diferentes épocas: desde o terceiro quartel do século XVIII até cerca de 1830, que é o período a que corresponderam os diferentes tipos. Neste caso, seriam mais antigos os painéis com cartelas de quase puro concheado rococó e mais recentes aqueles em que as cartelas assumem configuração retangular ou oval, ao gosto do neo-clássico e depois do estilo Império. Sabemos, porém, que o solar não é do terceiro quartel do século XVIII, assim como sabemos que, na pintura de azulejos, modelos antigos continuaram a ser utilizados muito tempo depois , por uma questão de tradição, de comodismo e de falta de espírito criador. Nas molduras e noutros pormenores puramente decorativos é que vamos surpreender mais comumente o elemento novo interferindo no figurino antigo. É o que, ao nosso ver, acontece com os azulejos do solar Aguiar. Datarão, como a casa, do primeiro quartel do século XIX, sendo alguns realmente no estilo dessa época e outros no estilo da época precedente.
A maioria dos painéis é na cor azul sobre o fundo branco, o azul variando de tonalidade, desde o safira, intenso e profundo, ao pálido e aguado. Também se observam variações no esmalte, onde tanto vemos do brilhante, obtido com grande fogo, como do fosco, decorrente de uma cozedura moderada. Os que são policromos, obedecem ao esquema da Real Fábrica do Rato – cenas em azul e branco e moldura policroma, isto é, verde, roxo escuro e amarelo mais ou menos queimado – esquema adotado no terceiro quartel do século XVIII e mantido até o fim da terceira década do século seguinte . De tais variações na tonalidade da mesma cor, no brilho dos esmaltes e no esquema cromático, a conclusão parece ser que os azulejos foram encomendados a diferentes olarias. Nenhum deles traz assinatura, ou qualquer indicação de fábrica.
 Do ponto de vista iconográfico, sobretudo no que se refere à indumentária das numerosas cenas de costumes – de pesca, de caça, de galanteio, de danças, de jogos e até de medicina caseira – homens e mulheres vestem à moda do último quartel do século XVIII e princípios do XIX . Nalguns quadros, os cavalheiros usam tricornio e, noutros, chapéus de aba redonda; nalguns, as mulheres aparecem com vestidos de cintura baixa; noutros, com cintura alta, no limite dos seios, já à moda Diretório. Tal diversidade evidencia claramente um período de transição, que tanto podia estar documentada nas estampas de que o pintor de azulejos se serviu para modelo, como ser talvez uma contribuição sua, alterando um pormenor daquelas a favor dos hábitos que seus olhos testemunhavam.
Embora não tenhamos dúvida sobre a origem portuguesa desses azulejos, em nenhum dos painéis a paisagem natural ou urbanizada, afigura-se de Portugal. Telhados, moinhos, embarcações, jardins, igrejas e palácios deixam antes a impressão de cenários holandeses, italianos e franceses, modificados, naturalmente, no que é acessório, pelo pincel do ceramista português.
Quanto aos azulejos historiados propriamente ditos – os mitológicos e os bíblicos – assim como os que parecem relatar as singularidades do Oriente, e os alegóricos da vaidade humana, as fontes de inspiração deverão ter sido as ilustrações de obras então circulantes, que uma pesquisa mais demorada poderá identificar.

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 F. Guerra Duval, em 1928, no seu Álbum das curiosidades artísticas da Bahia, foi o primeiro a publicar vistas internas do solar Bom Gosto e alguns de seus painéis de azulejos. Vê-se por aí que certos cômodos da casa eram contornados de alisares cerâmicos, o mesmo acontecendo no pátio central de elegantes arcadas e grades de balaustres facetados.
Cinco anos depois, antes da demolição do solar, um membro da família, o Dr. José de Aguiar Costa Pinto, professor e diretor da Faculdade de Medicina, teve o cuidado de fazer fotografar toda a coleção, levantando assim um documentário sem ajuda do qual teria sido duplamente trabalhoso o aproveitamento dos painéis nos salões e corredores da reitoria, graças à iniciativa do atual reitor, prof. Edgard do Rego Santos.  Com o auxílio dessa preciosa documentação, verificamos que os azulejos se agrupavam em 13 diferentes séries, caracterizadas pelos seus enquadramentos e colorido, e mais uns quatro painéis isolados. Interessante é observar que, no caso de molduras idênticas, a diversidade dos temas representados correspondia a contra-marcas diferentes no reverso dos ladrilhos, significando tratar-se não de uma, mas sim de duas séries.   Nem todos os cilhares que ornavam o solar Bom Gosto puderam ser aproveitados no edifício da reitoria. Nalguns, de tal sorte os ladrilhos ficaram prejudicados com a remoção, que se tornou impraticável reconstituir os painéis. Quase todos os rodapés se inutilizaram. A maioria porém, e o que havia de melhor, conseguiu-se aproveitar. Bastará uma visita ao novo e imponente palácio para se fazer idéia da opulência do acervo. Não só de sua quantidade como da variedade dos assuntos, inquestionavelmente o maior encanto e a melhor atração do conjunto.
Não foi fácil a adaptação de painéis feitos sob medida para a decoração de um palacete residencial, nas dependências de um edifício público da importância de uma reitoria de universidade, onde o comprimento das paredes havia obedecido a critérios funcionais e não às dimensões daqueles painéis. Por êsse motivo, as barras de janela ficaram sem aproveitamento. Nessa adaptação, pois, além do problema dimensional, a primeira precaução foi evitar que assuntos de relativa banalidade, como caça, pesca, dança, etc., fossem destinados a aposentos como o salão de recepção, o gabinete do Magnífico Reitor e a sala do Conselho Universitário. Mas se isto foi alcançado, como se verá no catálogo topográfico adiante, deve-se mais a felizes coincidências, do tamanho das paredes com o tema dos painéis, do que ao propósito de assim proceder.
Na parte mecânica do aproveitamento, sugeriram os arquitetos que a colocação dos ladrilhos, ao invés de direta, fosse feita em pequenas chapas de eternite, depois caldeadas nas paredes. Desse modo, a arrumação dos azulejos foi realizada com mais segurança e, em caso de necessidade, será menos difícil, no futuro, a retirada dos painéis”. 

APÊNDICE VI

OS SEMINÁRIOS DE MÚSICA DA UFBa

SEMINÁRIOS DE MÚSICA DA UFBa

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“A Escola de Música foi um dos principais eixos na modernização da Universidade Federal da Bahia.
Sua fundação ocorreu em 1954, durante a gestão revolucionária do reitor Edgard Santos. Com o primeiro nome de Seminário de Música da Bahia, a Escola promoveu durante quase duas décadas uma renovação completa no repertório musical baiano. Dodecafonismo, serialismo, obras de John Cage, Arnold Schoenberg e Pierre Boulez eram introduzidas aos alunos pela didática de seu diretor, o renomado maestro alemão Hans Joachim Koeullreutter. Seus ensinamentos, sua vasta bagagem musical e cultural e permitir seu contato in loco com as vanguardas musicais européias deram a Koellreutter a possibilidade de inaugurar um novo tempo na música erudita – e popular – da Bahia.
Um dos primeiros intelectuais europeus convidados diretamente pelo reitor Edgar Santos a compor o quadro de professores da renovada UFBa, Koellreutter permaneceu à frente da Escola de Música entre 1954 e 1963. Ao sair, passou o cargo para o maestro suíço Ernst Widner, do Conservatório de Zurique. Widner permaneceu longo tempo vinculado à Escola de Música, fazendo parte da cena erudita baiana e nacional. Apesar de não ser um vanguardista nata como Koellreutter, sua presença foi fundamental para a continuidade do espírito de liberdade e experimentação da Escola.


Ao lado dos dois maestros europeus, outro músico suíço ajudou a formar o tripé vanguardista da música erudita baiana. Anton Walter Smetak, que era violoncelista e artista plástico, trabalhou intensamente durante esse período, deixando como legado aos músicos baianos uma obra ampla e complexa. Em 1957, após conhecer o maestro Hans Joachim Koellreutter e tocar violoncelos em um concerto vanguardista com ele, foi convidado pelo mesmo para fazer parte da Escola de Música da UFBa.
Smetak aceitou o convite da universidade, onde lecionou e trabalho por doze anos.
Na UFBa, Smetak passou a dedicar-se à pesquisa musical, cujo foco era a criação de seus instrumentos musicais inovadores. Batizados com nomes como vina, vau, violão em microtom e araras, tais instrumentos são verdadeiras obras de arte. Suas pesquisas se davam na sua oficina, localizada no subsolo da Escola de Música. No final da década de sessenta, já com a saída de Edgard Santos e Koellreuter, Smetak passou a atuar em novas frentes musicais. Sua oficina recebia com freqüência as visitas de músicos e jovens intelectuais. Dois anos depois, seu atelier começou a ser freqüentado por Gilberto Gil, Rogério Duarte, Tuzé de Abreu, Djalma Corrêa entre outros, selando a reconhecida influência de sua obra nos músicos e intelectuais do tropicalismo.
O Seminário – depois Escola – de Música da UFBA foi fundamental para a formação de toda uma geração que, como Caetano Veloso, Tom Zé e Gilberto Gil, aprendeu em suas aulas e na convivência cotidiana
com os professores a buscar permanentemente a Inovação estética e as novas informações que estão disponíveis na música contemporânea.”


(Disponível em httt://tropicália.uol.com.br/site/internas/avant_mu sica.php)


 
APÊNDICE IV
A PRIMEIRA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA BAHIA
(Extraido do trabalho de Cidia Daniela de Oliveira Pires e Cristina Maria Meira de Melo.

ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFBa

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“Em 22 de janeiro de 1946 foi criada a Escola de Enfermagem da Universidade da Bahia (denominada assim até 1955, quando se tornou Universidade Federal da Bahia), anexa à Faculdade de Medicina, condição que perdurou até 1950.
A busca do fortalecimento e reconhecimento para implantação da profissão na Bahia pode ser notada pelo convite feito às enfermeiras formadas pela Escola Anna Nery do Rio de Janeiro e pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) para lecionar na Escola de Enfermagem da Universidade da Bahia. O quadro docente era escolhido para dar continuidade à orientação teórica anglo-saxônica de base religiosa, seguindo o modelo da Escola Anna Nery, considerada padrão para o ensino e formação das enfermeiras para todo o País.
Havia também exigências quanto ao perfil das candidatas ao curso de Enfermagem, tais como: boas condições físicas, orientação religiosa, nível cultural, social, econômico e moral. Outros destaques estavam no interesse em ajudar o próximo, na existência de instinto maternal e na persistência e no equilíbrio demonstrado pela candidata.
O altruísmo e a imagem do servir eram fortemente propagandeados pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia na divulgação do novo curso.
Eu gostava muito de matemática, de física, gostava de desenho. Então fui para o 1º ano científico e comecei a estudar já pensando em fazer vestibular para Engenharia. Quando foi no último semestre do científico (já fazendo cursinho pré-vestibular), o Ginásio Americano recebeu a visita da professora Haydée Dourado. Era uma palestra de recrutamento de jovens para fazer enfermagem. Mostrou como as enfermeiras ajudavam as pessoas, as visitas domiciliares, o trabalho da horta, o ato de servir, eu fiquei encantada. Ela mostrava como era o cuidado exercido  pelas enfermeiras, e eu nunca tinha visto aquilo. Tinha dezessete anos e quando ela terminou, eu disse: é isso que eu quero.
Em 1948, a Escola ganhou um prédio próprio, onde a Escola ainda funciona. Além de oferecer ensino às estudantes, o prédio constituiu-se em espaço de residência – determinação legal para todas as escolas de Enfermagem brasileiras – e lazer para as internas e suas professoras, proporcionando convívio entre ambas.
A Escola zelava pela moral de suas alunas e docentes, de modo que a vida pessoal de ambas era fiscalizada. Seus passos e atitudes também eram vigiados, a fim de manter o perfil desejado para as futuras enfermeiras.”
 

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